Reuniram-se no Atrium Saldanha ilustres anónimos ( ou nem tanto!), teoricamente desinibidos no uso da palavra, mas provavelmente apenas naquelas que vêem saltar no écran do computador e que se propagam algures na blogosfera.
Presentes estavam o círculo dos conhecidos, o das tímidas, o dos stalkers e fiéis leitoras, o das infantis que disfarçavam risadas e proferiam comentários mordazes, o dos homens muito machos que passaram por lá para lançar umas larachas e umas quantas perguntas indiscretas e incomodativas.
A vida paralela da blogosfera personalizou-se.
As assinaturas virtuais ganharam corpo, voz, expressões e entoações.
Por um lado, correu-se o risco de se desvirtuar a essência do blog: o estar tão íntimo e ser-se um perfeito desconhecido.
Por outro, ali estavam almas que se identificavam nas palavras das oradoras, que assentiam com as cabeças perante os seus testemunhos, que se entreolhavam com a curiosidade típica de quem se expõe e assiste, confortavelmente, à exposição dos demais.
Analisaram-se estilos de escrita, contabilizaram-se visitantes, focaram-se as principais diferenças nas escolhas das temáticas pelos bloguistas masculinos e femininos; colocou-se em causa a necessidade de existência (ou não) de uma caixa de comentários; catalogaram-se blogues como “reivindicativos”, “pioneiros”, “ordenados”, “fúteis” ou “introspectivos” e , como não poderia deixar de ser, uma vez que o tema eram as mulheres na blogsfera, falou-se muito muito muito para não se dizer nada.
Desse livre arbítrio vivem os blogues, dessa liberdade de poder dizer-se tudo o que se quer e não quer, sem autorização ou qualquer tipo de restrição, com ou sem lógica, colocando-se em pé de igualdade temas como a alteração das políticas fiscais ou o sismo no Paquistão e a maquilhagem à prova de água, o golo do Hugo Viana, a escrita da Rebelo Pinto ou a nova colecção da Mango.
Foi bom sair do cyberespaço e partilhar a realidade das sete da tarde, em Lisboa, com pessoas que se dedicam ao mesmo hobby ( ou será um projecto? ou quiçá um livro?) com igual devoção e grau de insanidade.
Mas não pude deixar de me sentir um pouco deslocada, situada algures entre o habituée das sessões dos alcoólicos anónimos (“Olá, eu sou a Chapa, tenho um blog e não posto há mais de 3 dias!”) e a elite sofisticada, cuidadosamente vestida e maquilhada que se cumprimenta de beijinho e domina a blogosfera desde os seus primórdios( “Oh querida, lembra-se de quando começámos?")
Devo confessar, porém, que aqui sentada sob o anonimato do meu Mundinho, sinto-me muito mais confortável!
É que às vezes o "faz-de-conta" é bem mais agradável e os templates tornam tudo mais agradável.