Salvador da Bahia - Abril 2004
O Brasil que eu conheci não deixou saudades. Cheirava a plástico, a lixo mal acomodado, a pintura fresca incapaz de disfarçar os traços escuros da pobreza.
Clamava por ajuda nos olhares e roupas rasgadas das crianças que nos tentavam vender pulseiras, que nos olhavam de soslaio quando proferíamos o não, que passavam o dia empoleiradas em buggys de desconhecidos a quem mostravam caminhos secundários para praias que já não as impressionam, mas fazem as delícias dos visitantes.
Procurei alma naquele país onde supostamente deveria sentir-me em casa, mas ao invés não me descolei do papel de forasteira e não me identifiquei com aquele meio.
Salvador da Bahia foi a grande surpresa, onde saí de um mundo artificial que tinham preparado para me receber e entrei finalmente na dinâmica de uma cidade brasileira.
Um cidade com vida, com cor, com cheiros, com história e com alma.
Não aquela do Pelourinho que é vendida em qualquer agência, mas aquela que encontramos nos edifícios que eles não cuidaram e em breve desaparecerão, encerrando neles séculos de história e mistérios.
Ou aquela alma pulsante, emanada dos corpos sensuais e quentes, que enchiam a zona histórica à noite, nas comemorações da semana santa.
Senti medo e desconfiança, mas senti-me viva, senti-me realmente lá e ainda que sem abandonar o meu estatuto de turista, por instantes olhei Salvador sob a perspectiva do viajante.
Hoje apeteceu-me recordar Salvador.
Talvez embalada pelas palavras de Rita ou simplesmente porque sim, porque hoje me pareceu uma boa noite para blogar sobre tudo e sobre nada, para fazer jeito aos dedos que já sentiam a falta do contacto com o teclado.
Sem comentários:
Enviar um comentário