sábado, julho 09, 2005

Com amigos assim (o post amargo da semana)

Durante a adolescência a grande missão é tornar-nos igual a todos os que nos rodeiam, passar o mais despercebido possível, não revelar traços de uma personalidade invulgar ou alguma faceta singular que nos diferencie dos que nos rodeiam.
Os outros são a verdade, o caminho e a vida.
Nessa altura os amigos são o mais importante; são a doce ilusão de que tudo permanecerá sempre igual; são a conta, o peso e a medida para qualquer das opções que tomamos.
O que sucede por vezes àqueles que não abandonam a ingenuidade da adolescência, é que desconhecem que os que os rodeiam estão e sempre estiveram conscientes de que um dia o panorama se vai alterar, de que o grau de dependência e a necessidade de aceitação serão transferidos, não para uma amálgama de pessoas a quem chamamos “amigos”, mas sim para uma só pessoa.
E essa pessoa é suficiente para alimentar a nossa autoestima e pequena vivência, assumindo-se como prioridade, como um fim que justifica qualquer meio e , preferencialmente, como um excelente álibi no momento de cortar as amarras com os amigos do passado.
Eis senão quando os “amigos” começam a surgir e a estar presentes unicamente nos maus momentos.
Muitas vezes não estão verdadeiramente lá. Flutuam com expectros ouvintes da desgraça alheia, incapazes de dizer o que quer que seja, alimentando secretamente a sua fome de dramatismo alheio.
Supostamente para ser amigo isto basta. Ouvir, estar, segurar a mão ou apoiar a cabeça. E quando não basta?
Começo a desconfiar daqueles que apenas estão presentes em momentos menos bons da minha vida.
Não me interpretem mal: é um luxo hoje em dia ter pelo menos uma ou duas pessoas a quem ligar quando nos tiram o chão por debaixo dos pés.
Mas desconfio daqueles que só se mostram disponíveis nessas alturas.
Como que à cautela ( não vá um dia suceder-lhes qualquer coisa e virem a precisar de ajuda de terceiros), os supostos amigos ouvintes vão desejando mentalmente não terem nunca de estar na posição da vítima.
E esboçam mentalmente, com um certo orgulho, o discurso inflamado com que vão relatar a desgraça do terceiro à sua cara metade ou aos outros supostamente amigos a quem sentem necessidade de provar que continuam presentes nas suas vidas e nas vidas daqueles que os rodeiam.
E onde vagueiam essas almas caridosas nos bons momentos? Nos momentos de comemoração, de partilha, de sorrisos?
Ocupadas andam elas...muito ocupadas...
A escutar a desgraça alheia ou a viver a sua egoísta felicidade.
Mas dizem-se amigos. Seremos sempre amigos. Há todo um passado.
O que me aflige é saber que vou ter que começar a pensar em desenhar todo um novo futuro.

8 comentários:

NoKas disse...

mas afinal... são ou não são "amigos"? Na saude e na doença, na alegria e na tristeza... :) não consigo entender uma parte sem a outra. Se é só p'á desgraça então é mesmo melhor desconfiar do próximo... mas tb, uma vida cheia de desconfiança é saudável?

(saudável=descontraída)


:p

Ana disse...

I know the feeling... As minhas grandes amizades sei bem quem são, porque são aquelas pessoas que telefonam mesmo qdo não há nada de "amargo" para contar, simplesmente para saber como vai tudo indo. São aquelas que sabem ouvir não só as tristezas, mas partilhar principalmente as alegrias.

Filipe disse...

Já dizia alguém que a amizade é multiplicar alegrias e dividir tristezas.

O estranho é quando supostos grandes amigos deixam de o ser por estupidezes, ou entao simplesmente desaparecem... e sentimos que para eles nós eramos simplesmente ninguém.

Anónimo disse...

Nos dias que correm, o tempo é um recurso escasso. Se eu pegar nas 24 horas do dia, subtrair as horas em que durmo, como, trabalho, passo com a minha namorada, etc. sobra muito pouco, pelo que acho normal não ter tempo para estar regularmente com algumas pessoas com quem possa ter passado largos períodos durante a escola ou a faculdade, em que as horas do dia davam para tudo. Eu já ficaria feliz se essas pessoas me apoiassem apenas nos momentos difíceis, porque seria uma forma de elas me dizerem que posso contar com elas, mesmo que estejamos pouco juntos. Esse conceito de “amizade” é muito subjectivo e varia de pessoa para pessoa. Para mim, um amigo é alguém que tenha tido (ou que ainda tenha) um impacto positivo na minha vida, com quem tenha passado bons momentos e com quem eu possa contar. Mede-se pela ligação quase que espiritual e não pelo número de horas passadas juntos. But that’s me... ;)

Rit@ disse...

Mas à sexta à noite, quando queres beber um copo e comemorar uma promoção no trabalho, um carro novo, um exame ou um final de curso, sabe bem teres um grupo de pessoas que te diz que sim imediatamente, que não vacila ou está cansado, que gosta de partilhar contigo o teu momento de felicidade. E tu sabes que tens meu menino... :)
Os amigos não se medem pelo nr de horas que passamos com eles. Por essa lógica, os colegas de trabalho seriam os melhores amigos do mundo, não achas?

Anónimo disse...

Mas porque é que se interpreta o texto de uma forma quantitativa? Não me pareceu que fosse essa a ideia.
A questão era mesmo a "qualidade" de uma amizade e não a quantidade de horas que podemos passar com alguém.
But that´s just me...

Anónimo disse...

Rita, quem é esta melga que não me pára de chatear?
Mas concordo ctgo (ctgo=Rita, não a melga anónima). Claro que sabe bem... Simplesmente eu sofro, por vezes de "preguicite", especialmente durante a semana, e não quero que me achem mau amigo por causa disso... ;)Quando tiveres um carro novo, prometo não faltar à celebração! Ou então quando tiveres uma porta de carro nova ;) Beijinhos a todos (até a ti melga-mor! vê lá o quão bem disposto eu estou!)

Rit@ disse...

Es mm toto. Quem te acusa de seres mau amigo? E sextas à noite quem está lá sempre de jola da mão para o brinde?Quem? ;) A preguiça afecta-nos a todos.TOODOOOSSS! Eu que o diga.Ninguém me põe a vista em cima durante a semana.Mas adoro os nossos encontros mensais! Farto-me de rir e divertir.