Em Portugal, se aos vinte anos uma rapariga se apresenta sózinha numa reunião familiar, olhares curiosos inspeccionam-na com alguma admiração e perplexidade.
Discretamente, as tias aproximam-se da mãe da desafortunada solitária e perguntam com voz doce e inocente : " Então e a M.? Não tem namorado?"
A mãe, com uma falsa tranquilidade no olhar e uma voz estudadamente pausada para criar uma atmosfera de normalidade, diz que a filha está bem assim e que em primeiro lugar estão os estudos, depois os namoros.
Mas, no fundo, esta simpática mãe preocupa-se e descansará mais depressa se vir a filha com um anel de noivado no dedo, do que com o pomposo diploma pendurado na parede.
Felizmente, a minha não pertence a esse grupo de mães que. ao contemplarem as suas filhas bebés, prontamente as imaginam de véu na cabeça.
Além de que, na minha época solteiríssima, a minha mãe atribuía esse facto ao meu mau feitio e encarava a situação com alguma satisfação e ligeireza, certa de que eu estava a ser justamente castigada por tantos arruaços, birras e casmurrices, alimentando secretamente a esperança de que um dia, esse amargo feitio viesse a ser adocicado .
Voltando ao tema porque senão perco o fio à meada...
Pois é, a partir de certa idade, as conversas que nos rodeiam centram-se, maioritariamente, nos hipotéticos casamentos que poderíamos ter com X ou Y e nas convicções absolutas das nossas amigas casadas, que tem um amigo perfeito para A ou B que aos 24, por permanecerem solteiríssimas, aos olhos da sociedade menos evoluída deste cú da Europa, estão condenadas ao "encalhanço".
Que solteira nunca foi convidado para um jantar e ficou sentado, miseravelmente, em frente a um lugar vazio porque era a única sem companhia? ( Digo solteira, porque os homens, geralmente, previnem este tipo de situações, fazendo-se acompanhar de uma "amiga". " Homem que é homem nunca está sózinho.")
Quando julgávamos que isto já era suficientemente mau, eis senão quando hoje, ao despertar e ainda com a pestana remelenta da manhã, ouço, com grande espanto, no so called telejornal, que D. Duarte de Bragança aspira casar o seu primogénito, SAR D. Afonso, com a pequena Leonor de Espanha, recém nascida e já perdida nesta teia de alcoviteiros .
Mais, aparentemente em toda a Europa e respectivas casas reais, lançam-se apostas, qual corrida de galgos, acerca de quem desposará, num futuro tenebrosamente próximo, a pequena Leonor.
Vida de princesa é dura: ao contrário de nós, maioria dos mortais de sangue vermelho vivo, as pressões que conduzem ao altar começam logo no berço e , provavelmente, só terminam com um ultimatum do Rei, a ordenar a boda.
E pensava eu que tinha sofrido por me tentarem arranjar blind dates...Chiça!
Depois esperam que estas crianças cresçam normalmente e que não acabem grávidas aos 18 anos num veleiro no Mediterrâneo ou mascaradas de nazis numa festa.
Sinceramente...