segunda-feira, março 13, 2006

Las Meninas



Partindo do pressuposto que a esperança média de vida da mulher portuguesa é de 72 anos; admitindo que sou saudável e que provavelmente alcanço essa idade; configurando, ainda, a hipótese de vir a sofrer uma crise de meia idade, o resultado da equação aponta para que esta me atinja por volta do 36 anos.
Na hipótese remota de ser, particularmente, precoce e não olvidando que cada ida ao ginásio (e inevitável rendez-vous com as meninas do ballet e do hip hop) me deprime e angustia, ao ponto de me deixar boquiaberta, é muito provável que me encontre a meio caminho da melindrosa crise.
Ao principio ponderei que se tratava apenas uma espécie de nostalgia perversa, com um toque de azedume e incontrolável inveja, pois a pele daquelas meninas consegue manter-se brilhante e acobreada o ano todo, porque as calças folgadas correspondem ao n.º 34 ou, simplesmente, porque o preconceito e pudor não as impede de usar decotes convidativos em pleno inverno.
Porém, após uma breve reflexão acerca dos benefícios dum salário mensal e a consequente independência, apercebi-me que não deveria olhar para aqueles seres leitosos com desdém, mas sim com alguma cumplicidade. Afinal, há uns anos atrás também eu era assim, apesar de, neste momento, a imagem me parecer inconcebível.
Todavia, havia algo nas meninas da minha geração que não encontro naquelas criaturas púberes que povoam o balneário no meu ginásio.
Segundo elas próprias afirmam, com 12 anos já se dão ao luxo (ou infortúnio) de ter um passado, um ex-namorado, uma colecção de modelos de jeans que não se usam.
Hoje em dia, de um ponto de vista superficial e enganador, aparentemente não existem raparigas.
Passa-se de “menina” a “mulher” ou de "pequenina" a “gaja”.
Sem espaço/tempo para serem raparigas, sem Barbies a rivalizar com os Cd´s da moda, sem roupas transitórias, sem elásticos no cabelo, sem pachorra para olhares reprovadores de tipas como eu que, inconvenientemente, ocupam espaço no banco do balneário, em vez de estar a trabalhar, como boas “cotas” que são.

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