A vida fácil
O dia amanheceu sem deixar adivinhar o final de tarde que nos esperava.
Admito que a azáfama da manhã não deixa muito tempo para reflexões ou para reparar nos pequenos nadas que nos fazem amar Lisboa no verão, mas nada fazia adivinhar o fim de dia frente ao rio, de imperial na mão, sem pressas, sem compromissos, sem cansaços ou impedimentos..
Os corpos, ainda sem graça, começavam a mostrar-se nas ruas, através das mangas curtas ou dos decotes pronunciados, com aquele tom amarelado de quem clama por sol e cores saudáveis.
Sem precisar o decorrer do dia e a languidez típica dos dias que antecedem feriados, em Lisboa a rua convidava-nos a passear, a visitar os jardins e a invadir as esplanadas, repletas de turistas e de outros tantos que não.
Os empregados de mesa olhavam de soslaio os transeuntes lisboetas.
Afinal, quem dá boas gorjetas são os estrangeiros e as mesas são poucas, pelo que “andor daqui que se faz tarde”.
Mas o fim de tarde estava tão ameno e convidativo que nem a malcriação dos maus serviços prestados nos impediu de apreciar a luz de Santa Catarina.
Nos jardins, os corpos ( jovens ou nem tanto) relaxadamente deitados, a panóplia de idiomas falados e o garrido das suas vestes não deixavam margem para enganos: Lisboa já não é só dos lisboetas, mas daquela mistura de raças que ontem a coloriu como há muito não se via.
Correndo o risco de nos estarmos a assemelhar demasiado aos nórdicos, a verdade é que o sol chegou e todos saímos à rua, numa espécie de boas-vindas improvisadas.
E as borboletas na barriga voltaram, sem qualquer tipo de introdução ou aviso.
A vida é tão mais fácil no verão...
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