Campolide
O tempo parece ter-se esquecido de visitar Campolide e de alterar os hábitos quotidianos da sua população tão heterogénea.
Outrora um bairro envelhecido e descaracterizado - talvez por se tratar, muitas vezes, de um local de passagem - hoje as suas ruas ganham novos contornos com a miscelânea dos seus moradores peculiares, na medida em que conseguem manter um pézinho na Lisboa recém cosmopolita e toda a sua alma bairrista na Lisboa tradicional, dos “lugares da fruta” e do amolador que assobia ao passar.
As padarias em Campolide parecem sempre despidas, os frangos da Valenciana nunca deixaram de ser um ex-libri e alguns dos seus cafés só abrem quando o Benfica ganha.
Os mais idosos comentam os mais novos e conhecem de cor as feições dos novos moradores.
Conhecem-se os nomes e as moradas; as histórias; as profissões e as famílias.
Na fila do supermercado, a senhora velhota queixa-se, propositadamente, do peso das garrafas que tem que transportar e os mais jovens, conscientemente, fingem ignorar as suas lamúrias.
A menina da caixa cumprimenta a velhota com dois beijinhos e pergunta pelo seu neto, avisando-a que tenciona dançar com ele no arraial da esquina.
Nos restaurantes, anuncia-se a presença “do belo do caracol”, bem como das indigestas “iscas com elas”.
Lado a lado, as lojas chinesas convivem com as retrosarias e as drogarias que, numa tentativa obstinada de lutar contra a mudança dos tempos, ainda mantêm os preços indicados em escudos.
E os dias correm sem pressas; sem vontade de mudar; naquela atitude conformista que conserva o espirito de bairro e mantém à distância a modernidade.
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