Sentaram-se no chão sujo do recinto, a aguardar que o concerto começasse.
As músicas, sabiam-no, iriam despertar recordações que nem os próprios tinham consciência de que ainda transportam.
Quando os acordes invadiram o ar, os dois, perdidos na multidão que extasiada cantava as letras da adolescência de todos, o fosso da distância surgiu, pela primeira vez, sem se fazer anunciar, sem que algum deles se tivesse preparado para tal.
Pese embora a mesma banda sonora os tenha acompanhado até àquele dia, o percurso de cada um tinha, um dia, sido tão distinto.
E eis que essa verdade, de forma nua sem pudor, se revelava aos olhos deles através da música.
Não falaram, pois as palavras, naquele momento e perante aquelas emoções, poderiam parecer supérfluas.
Voltaram para casa e nenhum ousou mencionar o silêncio daquela noite, possível algures no meio de elevados decibéis e dos gritos de milhares de pessoas.
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