Cinzentos os estagiários que percorrem as salas dos juízos criminais de Lisboa.
Mais cinzentos ainda os que já terminaram o estágio e arrastam-se no limbo que conduz até à maravilhosa cédula encarnada. Amarelados? Roxos da espera? Macilentos do penar?
Nos tempos livres, contentam-se com uma miserável folha amarelada que deixou apodrecer na carteira e serve de substituta à maravilhosa célula provisória.
A espera amarga que os conduz à certificação que lhes permite desempenhar a profissão mais censurável do mundo: ser advogado!
E tanto esforço para quê, afinal?
Franzem-se sobrolhos quando este seres indefinidos anunciam, publicamente, a sua ocupação; um misto de pena e repugnância domina a cara dos interlocutores.
O mais antigo estigma da humanidade ainda se faz sentir: os advogados são todos uns vigaristas e não há reforma da justiça ou (des) Ordem que altere esta condição.
Seres de moral duvidosa, defendem tudo e todos a troco de uns euritos no bolso, conduzem Mercedes e passam férias em Cuba.
Seres impávidos que não perdem a postura na sala de audiência, seres com as mãos manchadas pela desgraça alheia, disfarçadas pelo perfume caro comprado com os honorários cobrados.
Seres que, simultaneamente, despertam o temor de quem não entende o seu jargão e colocam os demais na posição incómoda das opiniões indelicadas.
Esquecem-se, porém, do lado real que se esconde por detrás da toga.
Os advogados de hoje, passaram por 5 anos de entediantes sessões em anfiteatros húmidos, onde a voz de deuses do Direito impunham, por vezes, a sua injustiça, provavelmente dominados pelo ímpeto pedagógico de colocar os futuros advogados na posição dos futuros arguidos que terão de representar na barra.
Como em todas as profissões do mundo, temos os incompetentes e os que não o são, os responsáveis e os desleixados, os dedicados e os apaixonados, os que dormem descansados e os que se mantêm em vigília involuntária, os que se enganaram no percurso e confundiram o gosto pela prevaricação com uma nobreza de uma defesa (legítima ou nem tanto!).
Comparando os advogados com os médicos, custa-me aceitar as diferenças que a sociedade, em geral, aponta a estas duas classes.
Alto grau de responsabilidade, esforço, longas horas de estudo e muitas noites mal passadas.
Se a questão passa pelo preconceito dos advogados terem uma especial predilecção pelo dinheiro, talvez a única diferença passe pelo facto da maioria deles passar os primeiros 2 anos da sua vida profissional sem receber um tostão e , claro, o que não se tem é o que, necessariamente, mais se deseja.
Acresce que seria hipócrita considerar que só os advogados gostam de dinheiro. Feliz andaria o mundo se assim o fosse.
E não serão bem pagos os honorários daqueles que resolvem os problemas alheios?
Refira-se, ainda, que quando a coisa corre mal, o advogado é o vigarista, o aldrabão incompetente causador do infortúnio.
Quando o panorama fica negro para o médico, a culpa não é mas de Deus que assim o quis. Ámen!
Este discurso apologético dos advogados não pretende minorar os actos danosos praticados por alguns desta classe.
Inserida no meio, sou a primeira insurgir-me contra a classe.
Porém, decorrido tanto tempo e de uma forma bizarra, apercebo-me de que de certa forma acabo por nos considerar uma família: não a podemos escolher, por vezes até nos causa embaraço e dificuldades, mas só nós a podemos criticar!