Nunca vos aconteceu acordar de manhã com uma ideia obsessiva na cabeça que não vos abandona o resto do dia?
Não tem que ser necessariamente uma preocupação. Pode ser uma imagem, uma recordação, um livro, uma música... ( tentem nunca acordar com Dido na cabeça...!)
Esta noite sonhei com o México e com uma das minhas zonas preferidas da Cidade do México: Coyoacán.
Nesse pequeno bairro do D.F nasceu e viveu toda a sua vida a pintora/mulher que mais admiro: Frida Kahlo.
Pela vida que teve, pela forma como a encarou, pelas dificuldades que enfrentou, pelo original das suas pinturas, por ser uma visionária e revolucionária, por apresentar quadros com uma verdade pujante e cruel. Lembrei-me imediatamente do meu quadro preferido: “Las dos Fridas”. Mais do que representar os devaneios de uma criança que tinha uma irmã gémea imaginária, “Las dos Fridas” faz-me pensar que todos nós temos dois lados distintos, Permanecendo embora a mesma pessoa, há sempre algo em nós que desconhecemos, que distancia aquilo que pensamos ser e aquilo que realmente somos.
Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho,
Por mais amigos que tenha sinto-me sempre sozinho.
De que vale ter a chave de casa para entrar,
Ter uma nota no bolso pr'a cigarros e bilhar?
A primavera da vida é bonita de viver,
Tão depressa o sol brilha como a seguir está a chover.
Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar,
Parece que o mundo inteiro se uniu pr'a me tramar!
Passo horas no café, sem saber para onde ir,
Tudo à volta é tão feio, só me apetece fugir.
Vejo-me à noite ao espelho, o corpo sempre a mudar,
De manhã ouço o conselho que o velho tem pr'a me dar.
Vou por aí às escondidas, a espreitar às janelas,
Perdido nas avenidas e achado nas vielas.
Mãe, o meu primeiro amor foi um trapézio sem rede,
Sai da frente por favor, estou entre a espada e a parede.
Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto,
Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto.
Porque é que tudo é incerto, não pode ser sempre assim,
Se não fosse o Rock and Roll, o que seria de mim?
DETESTO ACORDAR 10 MINUTOS ANTES DO DESPERTADOR TOCAR! Serve o presente post para demonstrar a minha mais profunda irritação ...
Ontem cheguei a casa tão cansada que não fui capaz de escrever nada, limitando-me apenas a colocar um fotografia do Caetano Veloso, tirada durante a digressão de promoção ao albúm “A foreign sound”.
Não conseguiria dormir descansada se não tivesse colocado aquele “post” ...
Isto porque tive a sorte de ver o Caetano actuar ao vivo pela primeira vez , que prometo que não será a última.
Muitos criticaram o facto dele praticamente não cantar em português, mas não esqueçamos que a ideia era a promoção do último albúm, todo ele cantado em inglês.
Confesso que mal conheço o albúm.
Confesso que senti falta do “Leãozinho” e do “Debaixo dos caracóis”.
Confesso que prefiro ouvi-lo cantar em português...
Talvez porque cresci a ouvi-lo cantar na língua que falo...
Ou talvez isso apenas se deva a alguma réstia de sentimento nacionalista que julgava ter perdido...
A verdade é que, na minha opinião, quando a música e o intérprete são verdadeiramente bons, o idioma e a letra das canções passam a ser secundários.
Porque a magia da música reside nos sentimentos que ela desperta em nós, nas memórias que através dela renascem, na forma como nos transporta a outros lugares e tempos nessa linguagem universal que todos entendemos, apreciamos e partilhamos.
Ao longo das duas horas de concerto não parei de pensar como um Caetano quase norte-americano, não deixa de ser o mesmo Caetano baiano, que imprime a sua marca indelével nas canções que interpreta, sendo ou não escritas por ele, sendo ou não cantadas em português.
Manhattan não só como pano de fundo, mas como a grande cidade do mundo, como cidade que se impôs no imaginário de todos nós através de filmes, músicas e cantores imortais e onde todos nos sentimos em casa, onde cada um encontra algo com que se identifica e à qual sempre queremos voltar.
Caetano transportou-nos Manhattan até ao Pavilhão Atlântico.Não a Big Apple como tradicionalmente a conhecemos, mas sim uma “island of joy” com sabor a bossa nova.
escrever desenfreadamente
devorar livros na praia
não guiar na cidade de Lisboa
passar um domingo chuvoso a ver bons filmes
ouvir um elogio de um amigo
chegar ao final do dia e sentir que fiz algo útil
conhecer pessoas novas e sentir que dali pode nascer uma amizade
Lisboa
Barcelona
uma boa peça de teatro
sábados culturais
descobrir um bom restaurante
sonhar com a possibilidade de um dia viver da escrita
sentir que fiz um bom trabalho
ver a conta do banco recheada
ver programas de viagens no people and arts
viajar, viajar,viajar...sempre, de preferência com o Chinês, não importa para onde, não importa por quanto tempo...não importa se saio de casa ou aqui fico, se são viagens reais ou imaginárias, se passam ou não de um rasgo de imaginação concretizado em algum post da blogosfera ...
Bem, como já aqui contei num qualquer post, tenho uma memória miserável. Não pecebo se é falta de inteligência, se é o meu inconsciente que scanariza as pessoas e momentos a reter, mas o que sei é que por vezes é muito humilhante. Há dezenas, centenas de pessoas a quem já cumprimentei e fiz a tal conversa de circunstância sem fazer a mínima ideia com quem dialogava.
Ao ser convidada para entrar neste blog (o primeiro para o qual sou convidada!), prometi à Rit@ que tinha uma história para contar. Tem em parte a ver com memória, ou com a falta dela... Cá vai ela...
A HISTÓRIA DO MACAENSE EM LONDRES
Visualizem: Londres. Aeroporto. Princípios de Outubro. Eu à espera das malas. Eu nas escadas rolantes a caminho do tapete das malas quando...
"Desculpe... Por acaso não foi ao concerto da Dido?!"
Hello?!?!?!?!?!? OK. Isto NÃO pode ser uma pergunta daquelas que se atiram para o ar, do género "Desculpe, tem horas que me diga?". Este ano houve dezenas de concerto em Portugal, como é que ele ia acertar logo num dos que eu fui, que nem sequer estava muito cheio? Se ainda dissesse "Desculpe, não esteve no Rock in Rio?" ou "Desculpe, não esteve na última noite da Expo?" Agora Dido... Quem é que vai à Dido? Só eu, e milhares de casalinhos românticos insuportáveis. Ora, partindo do princípio que o amigo não atirou a pergunta para o ar, quer dizer que ele foi ao concerto, e que se lembra de me ter visto lá. OK. Novo pânico. Como é que uma pessoa se lembra de uma outra que só viu uma vez na vida, e a quem nem dirigiu a palavra? Será que ele era uma das poucas pessoas que não estava com parzinho? Será que fiz eye-contact com ele? TÍPICO!... Decisão de começo de ano: nunca mais fazer eye-contact com estranhos. "Mas porquê??? É uma emoção", clama uma vozinha dentro. Ok, voltemos ao amigo macaense.
"-Fui, fui ao concerto...
- Ah, é que me lembro de te ver lá
- Hummm" O que é que se diz nestas situações?!?
Bem, e porque eu sou uma mole, lá fomos os dois à conversa buscar as malas. Afinal, no meio do aeroporto desterrado de Gatwick, aquela pessoa era quase família. Conversa de chacha, e realizámos que vínhamos no mesmo avião de regresso.
Paragem para ele trocar dinheiro.
"-Quanto dinheiro é que achas que eu troque?
-? Sei lá! Não sei o que vais fazer, se vais dormir em casa de amigos, se vais a teatros, jantar fora..."
Pronto, lá se decidiu e sacou de uma nota de 500€.
Nisto, momento desconfortante quando a nota dele de 500€ foi examinada por não sei quantas pessoas diferentes. A páginas tantas o homem dos câmbios virou-se para ele e perguntou-lhe se ele não tinha outra nota . (Hello?!?!? Quantas pessoas neste mundo é que andam a passear notas de 500€ pelas ruas?!?!)
Mas não! O meu amigo (que por respeito vou omitir o nome) tinha uma outra nota de 500€.
Trocas feitas, sorrisos trocados, e eu aliviada por perceber que não ia presa como cúmplice de falsificação de notas.
Combóios, e "adeus, diverte-te!"
"-Espera! Podes-me dar o teu número de telefone?
MERDA! Porquê que estas coisas só me acontecem a mim?!?!!
-Olha, é que eu não vou ter dinheiro para o roaming.
- não faz mal, eu mando mensagens.
-Deixa-me antes ser eu a ficar com o teu.
-Ok. É o .... E o teu?"
Man! Não consigo dar os dois últimos algarismos trocados. Simplesmente não consigo. Lá dei.
No dia de regresso, às 6h não o vi. E end of story.
Era o endes! A história não acabou enquanto não recebi três simpáticas mensagens dele:
1 - "Olá! Ca estamos outra vez. Gostaste de Londres? Foi pena não nos encontrarmos outra vez. Afinal não ocorreu “não há 2 sem 3”. Mas vi-te...”
OK. O que é que quer dizer “não há 2 sem 3”?!?! se a 1ª vez a que ele se refere eu não o vi!!!!!
Passados uns minutos...
Bip! Nova mensagem.
2 - “... sair do avião. Tens e-mail? O meu é XXX Keep in touch. Pode ser que ainda encontramos em algum concerto”
Passados uns dias, nova mensagem...
3 - "Olá Rita do Dido. Aqui é o XXX do avião. Bla bla bla.............."
PORQUÊ?!?!?!?!
E ainda por cima ainda fico com remorsos por não lhe responder.
Amigo, se estás a ler isto, desculpa, mas neste momento a minha vida está demasiado caótica para me envolver em novas relações. E tens que concordar, que isto é um evento meio surreal!!!
Intervenção de Morais Sarmento no 1º Colóquio de Rádio e Televisão em Portugal :
"...é necessário "haver limites à independência" dos operadores
públicos sob pena de ser adoptado "um modelo perverso" que exige
responsabilidades a quem não toma as decisões." "Não tenho direito a mandar, mas tenho direito a ter opinião", sublinhou
Morais Sarmento, defendendo que "a RTP ainda tem um longo percurso (a percorrer) a nível dos conteúdos" que transmite."
Caros amigos,
Como vêem, todos nos precipitámos a julgar o nosso prezado Ministro Morais Sarmento. Afinal a intenção do rapaz era boa...
A ideia não é (re)instalar a censura! Percebemos tudo mal...Afinal o Sr. Ministro é apenas um telespectador consciente e preocupado, que se preocupa somente com o conteúdo e qualidade da programação televisiva.
É apenas um consumidor descontente, que através de um vincado sentido cívico reclama o seu direito à qualidade...
Mentes torpes as nossas!
O Instituto Nacional de Protecção Civil lança o alerta:
"A zona do Largo de Santa Bárbara, paredes meias com a Av.Almirante Reis, encontra-se vítima de uma praga assoladora, que practicamente não deixa ninguém que por lá passa incólume .
São pequenas partículas que se movimentam no ar, sendo que a sua proliferação é potenciada em escritórios de advogados de grandes dimensões, com open spaces minimalistas e climatizados.
Um vez instalados, os ditos micróbios afectam automaticamente o cérebro: este passa a produzir uma substância que bloqueia qualquer tipo de raciocínio susceptível de abranger mais do que um tópico de cada vez e os "afectados" recorrem incessantemente a vocábulos como "escritório", "sócio", "associado"e "project finance".
Como se não bastasse este atrofio intelectual, o efeito destes micróbios gera a convicção que os infectados são seres de um estatuto social e pessoal elevado, superior a qualquer outra raça de transeuntes com quem se cruzam, o que justifica que os "afectados" pela praga assumam comportamentos fora do vulgar: não cumprimentam colegas no elevador, falam sem olhar nos olhos o seu interlocutor, vestem-se de negro e a rigor demarcando-se dos demais e têm sempre um ar muito atarefado e pouco cívico. Sim, porque o virus produz uma substância que lhes reduz os ângulos de visão e quaisquer resquícios de bom senso e humildade, inchando-lhes o ego em quantidades abismais, o que consequentemente gera as chamadas "poses de pavão".
(Isto é, torna os "afectados" INCHADOS)
Agradece-se que as pessoas que apresentem desde já esses sintomas se dirijam quanto antes ás instalações da Delegação de Lisboa da Ordem dos Advogados, no já referido Largo de Santa Bárbara, de forma a integrar alguma das turmas da manhã para as sessões de terapia conjunta.
Pede-se ainda àqueles que não pretendam entrar em contacto com o virús, o favor de guardarem distância da dita zona.
Atravesso um deserto intelectual…
As ideias fogem vertiginosamente de mim e não me dão hipótese de as concretizar em palavras, em textos ou dissertações que ocupam o tempo daqueles de vós que tão gentilmente vêm visitando este espaço.
Peço desculpa por esta morte prematura do Tico e do Teco.
Prometo em breve mais divagações sentimentais, textos humorísticos, histórias apaixonadas, sátiras e comentários maliciosos.
Sem mais de momento, comprometo-me a entrar novamente em contacto quando o meu cérebro entrar novamente em actividade…
FINS ARA!
Sou da opinião que só devemos comentar publicamente o que quer que seja se tivermos uma opinião positiva a dar ou um elogio a tecer.
Tento manter-me fiel a este princípio em todas as circunstâncias ,mas como tenho uma língua semi-afiada, volta e meia lá ando eu a “cortar” em alguém.
No entanto, o princípio está lá, o que nos dias de hoje é merecedor de algum valor.
Salvo respeito pelos críticos de arte, cinema e música, que fazem da “crítica” (muitas vezes maldosa) o seu modo de vida, a minha mãe ensinou-me que, por uma questão de respeito, certas coisas apenas merecem ser ditas em privado para não se ferirem susceptibilidades na presença de terceiros.
Aplico este principio ao meu blog, que não pretendo utilizar como arma de crítica injuriosa contra artistas, escritores ou produtores de qualquer obra de arte. ( até ao momento, aqui tenho conseguido ser fiel aos meus princípios.)
Ando há imenso dias a pensar que tinha que tecer algum comentário a peça de teatro “Picasso e Einstein” que quarta-feira passada fui ver ao Teatro da Trindade.
Trata-se de uma peça “ligeira”, bem humorada e com valor .
Àqueles que procuram duas horas de boa disposição, de diálogos interessantes, autores talentosos e uma pitada de um saudável “non sense”, recomendo vivamente uma ida ao Teatro da Trindade.
Eu fui...e gostei!
Horários: Quarta a sábado às 21h30
Domingo às 16h00
Tem sido uma experiência engraçada ser turista no meu país.
Nestes últimos meses têm-nos vindo visitar alguns amigos estrangeiros, que através de programas improvisados e, na maioria das vezes, apressados, descobrem Lisboa e arredores. (Diga-se de passagem que devido à dimensão do nosso país, podemos considerar arredores de Lisboa o Algarve!)
Ao servirmos de guias, acabamos por também ser turistas, por descobrir lugares que por inércia nunca conhecemos, por olhar os lugares e as pessoas com outros olhos...
Devo confessar que fico muito orgulhosa do nosso pequeno país, que nas coisas pequenas acaba por ser grandioso.
Até ao momento desconheço visitante que tenha partido indiferente ao que viu e experimentou em terras lusas.
Ou então estou rodeada de gente bem educada e simpática, que mente primorosamente. ;)
Este fim-de-semana não nos deixámos desmoralizar pelos chuviscos e o céu nublado e rumámos a Sintra.
A cada visitante que nos chega , conduzimo-lo obrigatoriamente a esse lugar mágico, onde cada vez mais descubro coisas fascinantes e intrigantes.
Há uma mística muito especial na serra de Sintra, um misto de mistério e romantismo que me nunca me deixa indiferente.
Quando era pequena tinha medo de lá ir , dá para acreditar?
Talvez fosse a neblina quase permanente que envolve o Palácio da Pena, talvez a história daqueles edifícios que parecem ter tanto para contar e guardar segredos inconfessáveis.
Ao visitar a Quinta da Regaleira este sábado senti esse pequeno calafrio de medo regressar.
Não apenas é um local digno de ser visitado pela beleza indiscutível das suas linhas arquitectónicas, como o seu jardim guarda segredos e recantos que merecem uma visita cuidada e atenta.
Labirintos rodeados de vegetação de toda a espécie, caminhos ordenados que conduzem a lagos , grutas e subterrâneos misteriosos, pensados ao milímetro, através de um raciocínio calculista que nos deixa intrigados.
Que segredos terá a Quinta que não nos quer contar?
Que mais teremos para desvendar?
sábado, outubro 16, 2004
Cansaço
Por trás do espelho quem está De olhos fixados nos meus? Alguém que passou por cá E seguiu ao deus-dará Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama, E tenta sonhar meus sonhos? Alguém morreu nesta cama, E lá de longe me chama Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço, Outros fizeram assim Daí este meu cansaço De sentir que quanto faço Não é feito só por mim.
Nunca gostei de encontros imediatos.
Pertenço aquela raça estranha de pessoas que ao ver um conhecido do outro lado da rua ( leia-se , conhecido. Não me refiro a amigos!), é dominada pela preguiça e timidez .
De certeza que os psicólogos já inventaram um nome para esta patologia .
Ou seja...fujo, finjo que não vejo, não tenho paciência para ir falar, invento artimanhas para não ver e ser vista.
Detesto conversas de circunstância, porque não passam de isso mesmo: daquela circunstância sinistra em que por casualidade nos encontramos naquele preciso momento.
Fico nervosa por não ter muito que contar, irritam-me os silêncios incómodos e tira-me do sério discutir o estado do tempo.
A situação complica-se ainda mais, quando a pessoa a quem vislumbramos não é simplesmente um mero conhecido, mas sim um conhecido que tem um poder sobre-humano de nos irritar.
Muitas vezes por inúmeras e intermináveis razões, muitas outras vezes apenas porque sim.
Hoje tive um desses encontros!
Desses que despertam irritabilidades porque sim.
Mas desta vez a conversa fluiu: fiquei a saber que “ando à paisana”.
Pode parecer estranho este comentário, mas foi exactamente isto que ouvi e passo a citar: “Olá, olá. Por aqui então? Mas a menina está à paisana!”
Como tenho reflexos lentos, fiquei sem perceber e sem responder convenientemente. Mas o meu interlocutor prosseguiu: “ Está vestida de um modo muito descontraído para quem está a trabalhar num escritório de advogados .”.
Urge dizer que se tratava de um rapaz...
Quase em simultâneo o meu cérebro começou a produzir a seguinte lista de questões:
1) É a roupa que faz o Homem ou o Homem que faz a roupa?
2) Mais vale parecê-lo do que sê-lo?
3) Há algum traje obrigatório nos Estatutos da Ordem dos Advogados?
4) Um fato negro torna-nos mais inteligentes / competentes?
5) Oferecem subsídios para a aquisição do mesmo?
6) Não era suposto só as mulheres ligarem a roupa?
Não me deixo vencer pelo sono sem antes escrever umas linhas acerca do melhor filme que vi este ano.
O filme “Os Diários de Che Guevara” surpreende pela sua genuinidade, pela sua simplicidade e pelos seus retratos.
Não contemplamos somente a viagem de Ernesto Guevara de la Serna e Alberto Granado pela América Latina, mas sim o nascer de um homem, de um líder que marcou indiscutivelmente o sec.XX.
Uma fotografia exemplar, um retrato crú da América Latina que teimamos em não conhecer: aquela que não vive dos resorts , mas de vidas passadas de sol a sol ; aquela que permanece fiel ás suas origens, independente das invasões americanas; aquela que alberga um povo humilde mas orgulhoso do seu passado, que resiste ás intempéries com um sorriso no olhar e uma canção nos lábios.
Parabéns por uma banda sonora fantástica!
Parabéns por uma caracterização prodigiosa que nos faz recuar no tempo e sentir aquelas pessoas, aquelas dúvidas, aquelas dores, aquele pulsar de vida, aquele despertar de consciência que me abalou a alma e não me deixa dormir descansada caso não o partilhe com alguém...
Longe vão os dias em que conseguia escrever todos os dias a um ritmo frenético... Afinal admito que é complicado manter um blog activo . Especialmente quando se trata de um esforço individual e solitário.
Enfim, queixumes á parte, prossigamos.
Nunca tive pretensões de ter um blog crítico, pleno de politiquices e criticismos, que não são próprios do meu feitio.
Mas desta vez não resisto a comentar essa fantástica fauna política , que nos tem alegrado os dias, qual circo de Natal em dias chuvosos.
Não resisto a citar um amigo meu, que reage com o seguinte comentário face à “censura maquilhada” do governo de Santana Lopes: “Queriam tirar os 45 minutos de antena que o Prof. Marcelo tinha aos domingos e o único que conseguiram foi dar-lhe esses mesmos 45 minutos de antena ,mas agora todos os dias, em todos os canais e em todos os telejornais.”
E não é verdade?
Não vejo muito televisão, mas a minha atenção ultimamente encontra-se concentrada na polémica Marcelista e a Quinta das Celebridades. No entanto, ainda não me consegui decidir quais os animais que me cativam mais: se os da quinta ou os do cenário político português.
Uppsss...se calhar é melhor moderar a linguagem, não vá o Diabo tecê-las e alguém alertar a Alta Autoridade para a Comunicação Social !!! ;)
Agora mais a sério...
Toda esta novela marcelista faz-me lembrar birras de irmãos ciumentos que clamam pela atenção do pai.
Por um lado temos um governo frio, integrado num mundo de políticos distantes e linguagens indecifráveis com os quais o cidadão normal não se identifica e não se relaciona .( O que vem inevitavelmente explicar as taxas de abstenção em Portugal.)
Por outro, um político/professor, que faz a ponte entre esse mundo inatingível e desacreditado da política e da governação, aproximando-o dos portugueses através da utilização de um discurso simplificado e apelativo, que o cidadão comum entende e com o qual se identifica.
Porquê mandá-lo “calar” e porque não aprender com ele?
Tanto berreiro para quê, se no fundo se trata apenas de um discurso? Um simples discurso, não mais, que na grande maioria dos casos é esquecido à segunda-feira...
Como estava a dizer no post anterior… este foi um fim-de-semana de surpresas.
Há alguns anos atrás falaram-me de um filme mítico, que eu tinha obrigatoriamente que ver .
Chamava-se “Cinema Paraíso”, era italiano e realizado por Giuseppe Tornatore. Apenas aqui chegavam os meus conhecimentos acerca do filme.
Estava eu então naquela fase de puro fascínio por filmes comerciais, regados a coca-cola e pipocas , que na altura começavam a implantar-se nas salas de cinema portuguesas.
Não tentei alugar o filme, bem como a ele não assisti nas inúmeras vezes que passou na televisão.
Eis que um dia de verão chego a casa de uma amiga, que no meio de inúmeros DVD´s da família, sacou de lá esse filme, cujo nome me soava familiar.
Começamos a ver e marcou-me acima de tudo a música e a ternura de um menino ( Toto) , que cultivava uma paixão cega pelo cinema.
Ainda não foi nessa tarde que consegui finalmente assistir ao filme todo, porque era quase hora de jantar e pertenço a uma família tradicional, para quem a hora das refeições é verdadeiramente sagrada.
Á terceira foi então de vez!
Sábado à noite, o Canal Um passou o filme.
Diga-se que o fez a horas impróprias, o que já vem sendo hábito da televisão portuguesa, depois de nos ter intoxicado com novelas e programas humorísticos que apenas despertam lágrimas…DE DESESPERO!
E agora finalmente percebo o porquê de dizerem que se trata de um filme mítico. Bem ao meu gosto, trata-se de um filme simples, de gente e história simples, que nos comove do princípio ao fim com a ternura do enredo, despertando a nostalgia dos tempos passados.
Tudo isto tendo como cenário a história do cinema, onde as estrelas brilhavam de verdade e faziam brilhar aqueles que viviam, suspiravam e sonhavam com elas e os seus filmes.
Em suma, o Cinema Paraíso além de se tratar de um filme que marcou a história do cinema, ele mesmo traça essa mesma história, invocando nomes e momentos que a Humanidade não esquecerá.
Eu revi-me na história, ao sentir que para Salvatore ( Totó) o tempo passou a correr…da mesma forma que sinto o meu tempo fugir-me entre os dedos.
E subitamente apenas nos restam as memórias: para uns em suporte de papel, para outros em películas cinematográficas, mas para todos guardadas no coração.
Recomendo!
terça-feira, outubro 05, 2004
Este foi um fim-de-semana de pequenas, mas agradáveis, surpresas e descobertas.
Não aguentando mais a tormenta semanal do calor citadino, fugi para o meu refúgio algarvio.
Lado a lado com a costa vicentina, recupero energias e cores na praia da Cordoama, que por esta altura do ano está praticamente vazia.
Imaginem uma ligeira neblina, um mar agitado de diferentes tonalidades de azul , um areal imenso recortado por rochedos magnânimes e enigmáticos, que protegem do vento aqueles que se aventuram por estradas de terra batida e sinuosos caminhos para ali chegar .
Admito que a temperatura da água não é propriamente convidativa. Confesso que um sem número de vezes temo pela vida quando as vagas assumem proporções tais, que só os surfistas “locals” se aventuram.
Paradisíaco o momento em que encostamos a cabeça na areia, com os olhos semi-cerrados, e nada nos incomoda para além dos raios de sol que douram a pele...
É uma dádiva viver numa cidade a 2 horas e meia desta praia.
É um orgulho ter um património natural ainda tão intocado e virgem.
É um privilégio ainda ir á praia em Outubro.
É um milagre poder passar um dia na Praia da Cordoama e sentir que a tenho (quase) só para mim.
Parabéns à Inês Pedrosa, pela sua crónica “Um homem e uma mulher”, publicada na edição deste fim-de-semana do Expresso, na revista Única.
Há algum tempo que uma história simples não me fazia pensar tanto…
A que se deve o sucesso dos blogs?
Porque é que cada vez mais as pessoas escrevem, criam, recriam, inventam, partilham os seus próprios blogs?
O Jacinto Fermin diz que quem tem um blog é um egocêntrico, muito seguro de si, que não teme críticas ao que escreve ou á forma como o faz.
Discordo com ele. Não acho necessariamente que um acto de publicação e divulgação de obras literárias signifique necessariamente que o seu autor é um , utilizando a gíria, “convencido” egocêntrico.
É sim um entertainer, um criativo , que com as suas obras além de procurar respostas e reflexos nos seus leitores, também os entretém com os seus jogos de palavras, ideias e desabafos.
Não significa necessariamente que está seguro acerca do que escreve e da forma como escreve.
Antes pelo contrário...se tivesse certezas não sentia necessidade de escrever ou de publicar, porque no fundo quem escreve procura sempre algo: respostas, ecos, paralelismo, reconhecimento, racionalidade ou lógica.