A praia

Não se pode dizer que goste propriamente da Primavera.
Gosto da sua chegada após o tormento do Inverno, do facto dos dias serem maiores e dos campos ganharem cor.
No entanto, nunca a Primavera inspirou em mim um romantismo inusitado ou um estado de excitação hormonal descontrolado.
Aliás, a Primavera tem uma ironia e um sarcasmo que me fazem sentir desconfortável.
As manhãs encobertas, as tardes escaldantes e as noites frias, disturbam não apenas o meu sistema respiratório, como as minhas vestimentas.
O gorro ou a sandália? Os calções ou o sobretudo?
Parafraseando o outro, eu gosto é do verão.
Do calor que amolece os corpos, do aroma húmido da praia, das maçãs do rosto bronzeadas, dos pés descalços onde se acumulam minúsculos grãos de areia, do sal que mancha a pele e das noites quentes que nos arrastam para a rua.
Este fim-de-semana o Verão deu-me um ar da sua graça e eu acolhi-o no seu esplendor.
Quando sacudi a areia dos pés e pendurei o bikini para secar, apercebi-me que já falta muito pouco para que esta estes gestos se convertam em rotina e deixem de ser excepção; para que os fins-de-semana se tornem mais longos e as noites mais amenas; para que palidez se retire até Outubro; para que a Primavera , discretamente, abandone Lisboa e dê lugar ao Verão.