Oito anos depois e partes havia onde pouco ou nada parecia ter-se alterado. Mas essa primeira impressão rapidamente se desvaneceu.
Em Kreuzberg, onde ficamos hospedados, o tempo, por vezes, parecia ter ficado em modo stand by desde 1985.
As roupas, os cabelos, os carros e os punks que um dia ilustraram a capa do “Achtung Baby” ainda estão muito presentes em Berlim, coabitando em harmonia com vanguarda cultural só comparável a Nova Iorque ou Londres.
Há oito anos atrás o Postdamer Platz praticamente não existia.
Amontoados de taipais, escavadoras e outros materiais de construção preparavam a remodelação daquele no man´s land, anteriormente cercado por paredes grossas de um muro que hoje, em jeito de recordação, serve de mostruário de graffitis.
Hoje em dia, o complexo modernista do Sony Center e a Filarmónica de Berlim deixam extasiados arquitectos que aí procuram a inspiração.
Berlim Leste está irreconhecível, com restaurantes, cafés e esplanadas para todos os gostos e géneros, recuperando ainda as marcas de uma cisão dolorosa que ainda hoje os berlinenses curam, dando ao mundo um exemplo de renovação, força, coragem e trabalho.
Mais do que qualquer outra cidade por onde passei na Alemanha, Berlim personifica a dor de um passado que não está tão longínquo como, por vezes, erroneamente parece.
Os relatos tristes das "duas Alemanhas" ainda se escutam e um pouco por toda a parte se encontram vestígios e lembranças do passado negro que o país ainda detém.
Porém, o ambiente que se vive em Berlim, nos dias de hoje, é de prosperidade, de positivismo e , sem dúvida alguma, de modernidade e urbanismo.
Muito mais do que uma cidade alemã, Berlim é uma cidade do Mundo, (re)construída das cinzas da sua história e das milhares de histórias de estrangeiros que aí construiram as suas vidas e coloriram o ambiente cosmopolita e multicultural que a cidade hoje nos apresenta.
Por um lado, assusta pensar que o aparecimento, galopante, de tantas “cidades do mundo” pode conduzir ao desaparecimento das especificidades e do historicismo de algumas cidades, fazendo com que todas elas se confundam entre si e se torne indiferente viver em N.Y ou Barcelona ou sequer em Londres.
Todavia, a realidade que ainda se vive em Berlim é única e o carácter que dela emana não se confunde com aqueles que podemos encontrar numa qualquer outra cidade com a qual tenhamos a fraqueza de compará-la.
Satisfeitos e totalmente rendidos, partimos para Munique, onde uma diferente realidade nos aguardava.
Era tempo de abandonar o sonho e regressar à Alemanha.