Qual Fénix renascida das cinzas, eis-me de volta a Lisboa e à blogosfera.
Admito que não senti muitas saudades...aliás, para ser totalmente franca, não senti quaisquer saudades.
Sei que a ausência foi muito breve, mas a cada viagem que faço, surpreendo-me com esta minha capacidade intrínseca de não sentir saudades de Lisboa, das minhas pequenas coisas ou hábitos rotineiros.
Já no que concerne as pessoas, a situação é outra... Mas confesso que os 6 meses de Barcelona foram um bom treino.
Retomando o fio à meada...
Pela primeira vez, a minha família resolveu terminar o ano em território com temperaturas médias superiores a 25 graus nesta altura do ano.
Rumámos ao México, onde durante uma semana fui seduzida progressiva e infalivelmente pela afamada Riviera Maia.
Presunção ou mero ímpeto juvenil (chamado sangue na guelra!), gosto de pensar que com o passar dos anos e viagens, tenho vindo a refinar os meus gostos e exigências, procurando cada vez mais abandonar o estatuto de turista e assumir o de viajante.
Já que a minha actual ocupação profissional não me permite ser apelidada de cidadã do mundo, gosto de imaginar que na realidade o sou, que não pertenço a qualquer estereotipo português ou que me insiro numa determinada e estanque classe social portuguesa.
Tento imaginar que tenho uma personalidade moldável, capaz de me adaptar a qualquer estilo de vida, a qualquer lugar do mundo, a qualquer cidade e respectivo ritmo.
Claro que acordo após dois minutos e me apercebo que sou portuguesíssima, que não posso viver sem o sol de Lisboa ou um bom cozido à portuguesa.
Mas de que falava? Ah sim, o México.
Esta foi a segunda vez que visitei este pais, com o qual tenho uma ligação muito especial.
Da primeira vez conheci o México real, aquele que dificilmente é vendável nas agências de viagens, que quase sempre é conotado de uma forma negativa.
Estive na Cidade do México a maior parte do tempo, com direito a curtas estadas em cidades coloniais como San Miguel de Allende e Guanajuato( este última que foi considerada pela Unesco como património da Humanidade) e Isla de Pajaros (Guerrero), onde acampei pela primeira vez em solo praticamente virgem.
Um mês foi mais do que suficiente para conhecer a realidade mexicana, ainda que na altura me tenha sabido a pouco e só tenha atingido a consciência desse privilégio muito recentemente.
Um amigo mexicano comentou um dia , que uma pessoa que visite o México sem ir à Cidade (Distrito Federal), nunca chega a conhecer realmente a realidade mexicana.
Na altura aquilo não fez tanto sentido como agora.
Ao chegar ao resort de Puerto Morelos (Riviera Maya), a desilusão foi instantânea.
Aquilo não era o México com certeza...e se era, então fui levada a concluir que nunca o havia visitado.
Avassalada por um misto de perplexidade e saudades , não me permiti valorizar os meus primeiros dois dias de estada em território mexicano.
Rodeada por luxuosos muros, uma fantasia plástica e subordinada ao despotismo norte-americano apresenta-se como o México, mas verdadeiros sinais dele são praticamente inexistentes.
Chego mesmo à conclusão que o conceito de resorts não se aplica a viajantes, mas sim a turistas, que não buscam uma essência, mas apenas facilidades, calor, organização artificial que não corresponde ao país onde os mesmos estão inseridos, realidades camufladas em serviços de in included e música com ritmos de salsa.
O México que conheci e por quem fiquei apaixonada é um país com um passado glorioso relativamente ao qual todos os mexicanos se sentem orgulhosos, o país das cores vivas, das colinas saturadas com construções rudimentares que não deixam à vista qualquer espaço verde, é o país com a cidade mais povoada do mundo (25 milhões!), onde convivem em harmonia tecnologias e cosmopolitanismo do sec.XXI e tradições indígenas e pirâmides de sociedades há muito desaparecidas.
Mais do que isso, é o país onde a pobreza é proporcional ao calor humano que as pessoas emanam ao trocar as primeiras palavras...
Admito que no turismo massificado da Riviera Maia , o carácter afável dos mexicanos não sobressaia. Afinal, toda a zona está planificada em função dos norte-americanos e eles não estão ali para reclamar atenções, mimos ou especial cordialidade.
Afinal estão ali por direito, porque aquele meio-irmão esfarrapado tem que se submeter aos seus caprichos e não questionar o que quer que seja.
Estas foram as minhas primeiras impressões ao chegar a Puerto Morelos...mal sabia eu os dias fantásticos que se seguiriam...
Mas a noite já vai longa e o post também.
Não vos canso mais a vista em frente ao écran. Amanhã prometo prosseguir com o relato desta viagem e tentarei ser breve.
Basicamente, a ideia é despertar em vocês curiosidade em relação a um país incrível, que venho a conhecer cada vez melhor e a admirar cada vez mais.