segunda-feira, agosto 23, 2004

Por acaso...

Será a vida feita de meros acasos, felizes ou infelizes, todos eles aleatórios, desconexos, sem qualquer propósito? Ou devemos acreditar num plano sublime, imaginado por um ser superior, divino e conhecedor, que nos observa cuidadosa e paternalmente, enquanto perseguimos o caminho que, para nós, individualmente foi traçado?
Quanto mais penso acerca da (in)existência de um destino, mais ridícula me sinto...que tema mais batido, mais explorado e divulgado. Tal como uma discussão acerca de uma qualquer crença religiosa ou filiação política, o aborto ou a liberalização das drogas...NÃO CHEGAREI A NENHUMA CONCLUSÃO.
Intriga-me não me ser desvendada a razão de conhecer algumas pessoas e não outras, intriga-me o porquê das opções que não sendo tomadas racionalmente, resultam ser as mais benéficas.
Ao falar de opções não racionais, refiro-me aquelas que tomamos sem dar-nos conta, com as quais fingimos não preocupar-nos.
Aquelas que dizemos não as tomar ( por falta tempo, de paciência , de maturidade), mas a realidade é que as deixamos ao rumo natural das coisas ( ou á Divina Providência! segundo alguns ), estando simultaneamente a tomar a decisão de ficar na mesma.
Ou seja, optamos por não optar e saímo-nos bem com isso. Qual o passo seguinte? Os crentes agradecem ao Senhor, os outros proferem “ Ainda bem que foi assim...era assim que tinha que ser!”
Seremos no fundo marionetas comandadas por um destino matreiro, caprichoso e inteligente, ou simplesmente uns seres complicados e de reduzidas capacidades intelectuais, em busca de uma explicação exógena para tudo, já que nós próprios não podemos viver sem explicações, não obstante de não conseguirmos dá-las?
No fundo procuramos um sentido para as coisas quando ele pode até nem existir. E se existir e nos for dado a conhecer, quem nos garante que o aceitaremos, que ele nos convém?
Por feitio ( e não defeito creio), penso demasiado...na vida, na minha vida, na dos outros, talvez demasiado na dos outros...
E quanto mais envelheço menos certezas tenho, quando mais aprendo mais dúvidas me coloco, quanto mais vejo, menos quero ver.
Se existe destino ou não, se sou manipulada ou manipuladora, se tudo isto é uma ilusão e a vida não é aqui, sabê-lo não me trará sossego ou satisfação. Qualquer conclusão a que chegue atormentar-me-á sempre: se há destino sentir-me-ei impotente e temerei o futuro, uma vez que de antemão me é dito que nada poderei fazer para alterar aquilo que outrora foi escrito. Se não houver e tudo isto for uma desordem caótica e patética, para quê confiar se nada é seguro, para quê tentar aceitar o que nos sucede se nada é lógico?












Bom conselho Chico Buarque 1972

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

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