segunda-feira, janeiro 31, 2005

"Un long dimanche de fiançailles"



Para aqueles que vão à espera de ver um "Amelie Poulin" parte 2, pois lamento informar que a tónica do filme é bastante diferente.
Em comum, têm a excelente interpretação de Audrey Toutou , que definitivamente veio para ficar, e que em ambos filmes encarna um personagem esperançoso, com um olhar misterioso e doce, que se recusa a aceitar que a vida é só aquilo que aparenta ser.
Com uma perseverança fora dos limites do imaginável, Mathilde rejeita as supostas evidências e parte em busca do seu noivo desaparecido durante um confronto na 1ª Guerra Mundial.
Busca essa que à partida se via infrutífera, desanimando qualquer pessoa que se encontrasse naquela situação, à excepção dos espectadores como eu, que se permitem sonhar por estarmos perante um filme, por estarmos perante ficção.
Porque será que às vezes na vida real é mais complicado? Será por isso que recorremos a apoios, mezinhas ou superstições, para conseguir acreditar e manter viva a esperança, tal como Mathilde o faz ao longo do filme?
Se eu conseguir escrever este post de um só vez, sem corrigir qualquer erro ortográfico, é porque nos próximos tempos serei possuidora de uma inspiração prodigiosa...
Espero que resulte comigo da mesma forma que resultou no filme! E espero que vão ver o filme , porque é bom e recomenda-se nestas noites frias que se fazem sentir.
A alma sairá certamente "
aquecida" do cinema...

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Portugal Exporta Metade dos Seus Resíduos Perigosos para Espanha

HEHEHE! Afinal somos hermanitos para quê? Temos que ser solidário com a família.
O tuga sabe-a toda!Ah pois sabe...




Auschwitz


Já se faz tarde e não consigo escrever grande coisa.
Talvez porque certas coisas sejam inqualificáveis ou por serem tão chocantes, qualquer coisa que se diga sobre elas vai soar rídiculo, vai cair num sinistro lugar-comum.
Como foi possível? Não sei...creio que ninguém sabe...
O pior é saber que hoje atrocidades continuam a ser cometidas, que se mata indiscriminadamente e de um modo premeditado , sem no entanto existir uma verdadeira justificação que fundamente tais actos.
Houve tempos em que julguei que o Holocausto seria irrepetível.
Caía na ingenuidade de acreditar que aprendemos com os erros.
Agora começo a acreditar que o único que nos resta é recordar e rezar.
Rezar para que tenhamos de facto todos aprendido qualquer coisa com este infame epísódio da história da Humanidade.
E rezar ainda com mais fervor, para que estas cerimónias de homenagem sejam mais do que isso e despertem realmente consciências, nesta Europa teimosa onde ideologias racistas começam a proliferar de uma forma doentia e assustadora.
O que me parece é que muita gente não aprende com os erros...apenas os guardam na memória, catalogando-os como aquilo que "deveriam ter feito", guardando-os naquele plano hipotético onde todos somos perfeitos e as asneiras não se repetem.



quarta-feira, janeiro 26, 2005

Elogio fácil :

1)

Novamente à Inês Pedrosa, pela sua crónica “Ideias Peregrinas”, publicada na revista Única do Expresso desta semana. Além de ser dona de uma escrita inteligente e elaborada, sem cair ,no entanto, na arrogância e excessiva sofisticação de alguns dos seus companheiros de profissão, a escritora conseguiu expressar nesta sua última crónica, uma ideia que há muito partilho, mas até agora nunca consegui expressar de forma conveniente.

2)
À “Charlotte” ou antes Carla Hilário Quevedo, autora do blog Bomba Inteligente.
Não só por ser a autora de um blog fantástico, como também pelas suas crónicas semanais, agora publicadas em suporte de papel, também na revista Única.

3)
Ao blog O céu sobre Lisboa, onde passo diariamente e me delicio com as fotografias de beleza única, que me fazem querer viajar mais, conhecer melhor e observar com olhares milimétricos a minha cidade. Já para não falar na vontade irresistível de regressar a Madrid e ao Porto, que as ditas fotografias despertaram em mim.

4) Ao fantástico Prof. José Hermano Saraiva, não só pela pessoa notável e conhecedora que é, como também pela sua entrevista da semana passada no Prova Oral da Antena 3. Quando questionado acerca daquilo que crê ser o resultado das eleições de 2o de Fevereiro, respondeu com a inteligência que lhe é sobejamente conhecida: "Não falarei sobre o presente. Se o fizer estarei a falar de política e não de factos históricos e penso que foi por este último motivo que me convidaram para o vosso programa..." ( se a memória não me falha, foi mais ou menos assim)





terça-feira, janeiro 25, 2005

Influenza o caraças!


Ontem a gripe tomou conta de mim, mas creio que hoje já começo a tomar conta dela.
Já não me dói tanto o corpo, o nariz já começa a fungar menos, já só bebo 5 chás de limão com mel e ao telefone, já não preciso de repetir 3 vezes a frase para me fazer entender.
Parece que afinal de contas, amanhã sempre irei à Luz ver o grande jogo.
E vendo bem as coisas, esta gripe até calhou bem:
1) Atacou-me segunda-feira de manhã e não sexta-feira à noite!;
2) Dois dias de dolce fare niente;
3) Li o Expresso de uma ponta à outra;
4) Avancei umas 100 páginas no “Cavaleiros de São João Baptista, do Domingos Amaral”;
5) Encontrei a desculpa perfeita para passar o dia de pijama , enrolada numa manta;
6) Bloguei a horas decentes;
7) Dei finalmente outro uso ao leitor de Dvd´s ( ultimamente só o utilizava para ver de uma forma frenética e descontrolada episódios contínuos do Sex and the city).
Creio que há muito tempo que não dava tanto valor a estar em casa...
Vou aproveitar e regressar aos meus 10 anos, altura em que via os episódios do Poirot quase com a mesma intensidade que hoje dedido ao Seinfeld ou à minha pseudo-amiga Carrie Bradshaw.
O “Natal de Poirot”, a torradinha e o chá de limão fumegante chamam por mim.





Rita Hayworth


Quando for grande quero ser assim!

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Tarde de domingo em Barcelona



Hoje o meu amigo JP só conseguiu sair de casa às quatro da tarde. Mal sabe ele que isso sucederá mais vezes...
Ao contrário dos outros, ainda não se sente totalmente em casa em Barcelona.
Ainda não tem uma rotina, percursos viciados, amigos estrangeiros ou portugueses com quem combine ir comer uma shoarma ao Raval.
Os outros já saíram há algumas horas e não o avisaram do que iam fazer.
Agasalha-se bem e ao pisar a rua apercebe-se pela primeira vez que nesta altura do ano faz muito mais frio em Barcelona do que em Lisboa.
Não sabe explicar o porquê mas sente-se inquieto, sem no entanto se sentir assustado.
Sente-se dono do tempo e dos seus actos, mas ao mesmo tempo sabe que segunda-feira está à porta e que o domingo tem mesmo que ser muito bem aproveitado.
Está um daqueles dias soalheiros, mas frios, que convidam a passeios pela praia e a chocolate com churros ao final da tarde.
Segue desde a Ciutadella até à Barceloneta, sempre junto ao paredão, donde pode observar os grupos de jovens que ficam estendidos na areia a sonhar com os dias de verão.
Sente subitamente saudades da Pipa e pensa com curiosidade no que se estará a passar em Lisboa nesta tarde de domingo.
Ao chegar à Barceloneta , já cansado e atacado pelo frio, resolve apanhar o metro em Urquinaona, observando do seu lado esquerdo, enquanto sobe a rua, a Catedral.
Não a recordava tão bonita desde há dois anos quando me foi visitar.
Talvez a tivesse olhado com outros olhos, com olhos de turista anónimo...Mas agora olhou-a com mais atenção, expressando pela primeira vez aquela ternura típica dos habitantes de uma cidade face a um monumento da sua cidade, relativamente ao qual se sentem orgulhosos.
Em Urquinaona uma multidão cosmopolita, enérgica e multifacetada corre em direcção à linha encarnada.
Nas tardes do domingo praticamente todos os caminhos vão dar à Plaza Catalunya e o meu amigo JP não é excepção.
Ao sair da estação, JP sente-se em hora de ponta no Rossio, mas desta feita as pessoas não estão carrancudas nem sentem pressa.

Aproveitam a sua cidade e alimentam o seu pulsar de vida...e a sua cidade retribui-lhes esse orgulho, mantendo-se sempre desperta, sempre viva, sempre em movimento para agradar a todos os catalães e não decepcionar nenhum estrangeiro que ali tenta a sua sorte e tenta criar um lar.
O meu amigo JP desce agora as Ramblas, vê os malabaristas, os vendedores de flores e aves, a senhora com a perna amputada que rasteja a pedir ajuda, o homem estátua escondido sob a sua maquilhagem...
Um dia destes já não demorará tanto tempo a descer as Ramblas...um dia destes já não as conseguirá ver com os mesmos olhos... um dia destes, sem saber porquê, já não irá a correr entrar no Easy net para se ligar ao msn, porque o tempo entretanto passou e já será hora de partida.
Um dia destes o meu amigo JP estará aqui no meu lugar, a escrever sobre Barcelona com os olhos húmidos e um nó na garganta, ao lembrar aquilo que viveu e a adivinhar ingenuamente (como eu o faço agora) , aquilo que estarão a viver os recém-chegados à minha/nossa cidade...


P.S Um beijinho muito especial para o Jp e para a Pipoca que não admite mas morre de saudades!

domingo, janeiro 23, 2005


Jordi Labanda no Sandwich&Friends...

Domingo de manhã...


Edith Piaf


Eh ben, voyons, Milord!
Souriez-moi, Milord! ...
Mieux que ça!
Un petit effort... Voilà, c'est ça!
Allez, riez, Milord!
Allez, chantez, Milord! La-la-la...

A investida demolidora do Tanque



De sonho!
Este campeonato está a ser de facto uma verdadeira caixinha de surpresas.
Mas, como sportinguista, não consigo destrinçar o que me dá mais prazer: se uma vitória do Sporting ou uma derrota do Benfica!!??
Hmmmm... esqueçam...é mesmo uma derrota do Porto!

Crónicas da cidade das 7 colinas maravilhosas...




Há que convir que nesta última semana, O mundo da ch@p@ assumiu uma vertente melancólica que não lhe é característica.
Como neste instante não me ocorre nada de hilariante ou especialmente inteligente para comentar, remeto-me aquele meu lado mais azedo e crítico: mais uma vez elevo a minha voz de cidadã contra o mau funcionamento do meu país.
De uma forma estúpida ou simplesmente burguesa ( como o meu pai tão simpaticamente a classificou), decidi sexta-feira à noite levar o carro até ao Bairro Alto.
Caí na ingenuidade de conseguir encontrar um lugar, como aliás é hábito.
Ainda para mais , ia mais cedo do que o costume.
A jeito de pressentimento, resolvi não dirigir-me imediatamente ao local , procurando um lugar próximo de um metro existente na área circundante à minha casa.
Ora, como sucede aos demais habitantes da zona de Campolide, estamos no meio de uma encruzilhada desprovida de um metro a que possamos apelidar como “nosso”.
Além de ser caótico estacionar em Campolide e de a zona ser especialmente íngreme, não há qualquer metro que a sirva, o que leva a que tenhamos que caminhar ou até ao Rato ou até S. Sebastião, para apanhar esse maravilhoso e prático engenho, que nos dias de hoje já chega a Odivelas , mas não atinge um grande número de zonas do coração da cidade de Lisboa.
Lá fui eu, cheia de boa vontade e alguma forretice, tentar estacionar o carro junto do metro de S. Sebastião.
Impossível...nem um único lugar...
Como essa é a minha zona de trabalho, não pude evitar a minha perplexidade por não existir um único lugar para estacionar, coisa que durante o dia não me tem acontecido.
Dei-me por vencida quando tentei visualizar mentalmente um metro, mais ou menos nas redondezas, com um maravilhoso e grátis parque de estacionamento, onde pudesse deixar o carro eventualmente recuperá-lo no final da noite.
E surpresa das surpresas...NÃO EXISTE TAL MILAGROSO PARQUE.
Porque a malta que engenha a fantástica e cada vez mais extensa linha do metropolitano de Lisboa, se esquece de um pequeno detalhe: enquanto não existirem parques grátis ao lado das estações do metropolitano, o Zé povinho continuará a levar carro para o centro da cidade.
Para abreviar a história, ao fim de uma hora e um quarto de voltas incessantes na zona do Chiado, Calçada do Combro, Largo do Carmo e Largo Camões, eis-me na direcção do Cais do Sodré, onde depositei o meu solitário carro ao pé da estação fluvial ( diga-se que era o único lugar livre!) e finalmente aí entrei no metro que me deixou finalmente no Chiado, exausta e à beira de um ataque de nervos.
Já para não falar nos sorridentes policias municipais com que me deparei à saída do metro, que alegremente se preparavam para mais uma maratona de multas e reboques.
Soluções:
1) Para ir de metro sem ser assaltada ou violada no caminho até S. Sebastião ( atravessar o campus da Nova não é pêra doce) terei que sair de casa com a luz do sol...ou seja, até ás 17.30 da tarde nesta altura do ano.
2) Pedir boleia a alguém com bolsos fundos e que não se importa de pagar parques na zona do Bairro Alto ( já agora, é sempre conveniente que esse alguém goste de sair de casa cedo, porque senão não somos capazes de encontrar lugar nesses sítios.)
3) Mudar de país e ir viver para uma cidade onde as coisas funcionam e fazem um bocadinho mais de sentido...Boy, how i miss New York...!!!
Provavelmente vocês terão outras soluções para me oferecer e argumentos suficientemente bons para deitar por terra toda esta minha teoria, mas que se lixe...fiquei mesmo chateada...ah pois fiquei...

Leaving on a jetplane



No espaço de uma semana e meia despedi-me de duas pessoas.
Uma rumou ao Brasil e a outra dentro de 3 horas partirá para Timor, lugares estes que com certeza as irão marcar para sempre e quiçá mudará a forma delas encararem o mundo, Portugal e a si mesmas.
Nunca antes me intimidou tanto ver amigos partir...
Talvez porque antes as viagens eram mais curtas, as experiências eram menos pensadas ou organizadas, porque as ausências se encontravam limitadas temporalmente por falta de dinheiro, férias ou pelo simples facto de existir um curso superior pendente em Portugal que convenientemente tinham que concluir.
Não estando perante nenhuma destas situações, o panorama altera-se e a nossa perspectiva também.
E eis que subitamente, aquilo que em principio era apenas mais uma viagem ou uma mera experiência curricular, ameaça tornar-se num ponto de viragem, num daqueles instantes decisivos em que se joga e se escreve a vida de alguém.
A partida custa não apenas àqueles que ficam , como também aos que partem.
Afinal de contas , qualquer mudança nos transtorna, ainda que positiva.
Mas a ausência, na generalidade dos casos, é mais penosa para os que aqui permanecem.
Hoje sinto um nó na garganta ... e mais uma vez aguentei uma despedida sem chorar.
Será por pouco tempo que a minha Sarita não estará cá...mas desta vez a ideia assusta-me mais do que qualquer outra.
Porque desta vez não a acompanharei;
Porque me sinto co-responsável por esta ida;
Porque sinto que este é um momento decisivo para a vida dela;
Porque sei que ela ainda está em Lisboa e já sinto a sua falta...

quarta-feira, janeiro 19, 2005

A minha leitura "angustiante" das últimas 2 semanas ( entenda-se angústia no bom sentido!)



"...Você gosta muito dela, observou.
Foi o comboio de corda do meu coração, respondeu ele. Parou e obrigou-me a parar a mim também."

in "Requiem" de Antonio Tabucchi

Porque hoje é um bom dia para recordar um dos filmes da minha vida...



terça-feira, janeiro 18, 2005


"I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived."
Walden
by Henry David Thoreau - 1854

A insustentável sensibilidade do ser



A hipersensibilidade devia ser como o sarampo: tinhamo-la uma vez na vida e jamais a voltariamos a sentir.
Às vezes sinto-a como uma pedra no sapato, como aquele impecilho que não nos permite avançar e nos amarra com correntes fortíssimas a um presente que desprezamos e a um passado que fingimos ignorar.
Outras vezes a situação não é assim tão dramática e conseguimos encarar tal característica exactamente como ela é: um tremendo embaraço que nos faz chorar porque sim e porque não, que nos faz gritar quando temos que manter o silêncio, que nos magoa e corroí diariamente através de pequenas coisas que supostamente são insignificantes para todos , mas surpreendentemente não o são para nós.
E , como se não bastasse ,ainda há aqueles que nos exigem uma maturidade que não temos, verdade essa que , impotentes, revelamos entre choros e soluços infantis.
Há quem nos apelide de fracos ou lamechas, mas se há categorias que rejeite peremptoriamente , essas são umas delas.
Como podemos ser fracos se , diariamente, sofremos por nós, pelos outros, porque nos dirigiram uma palavra mais forte ou um comentário menos simpático e ainda assim não estamos dispostos a mudar e cada vez aguentamos mais?







Papel?Qual papel?


Nem todos os dias podem ser bons, mas há sem dúvida alguns melhores que outros.
Passei a tarde nas Finanças, a preencher milhares de papéis com siglas, números e códigos indecifráveis.

Foi durante esta tarde que tive a prova inequívoca que o curso de Direito, na realidade, não nos prepara para nada...e que curso algum nos prepara para uma Repartição de Finanças e respectivos impressos!






segunda-feira, janeiro 17, 2005

Mulheres a quem a lei proíbe de serem mães



Num país com uma elevadíssima taxa de violência doméstica, onde mulheres maltratadas aguentam em silêncio sucessivas traições e humilhações por parte dos maridos, onde uma lei inadequada e cega faz com que o critério económico seja decisivo para que um aborto seja feito em condições de salubridade e higiene e onde o facto de pertencer ao sexo feminino é considerado como justificação para discrepâncias de salários, tudo é possível!
Na edição deste domingo do DN , vem publicado um artigo que vez chama a atenção para mais um vazio legislativo em Portugal e respectivas consequências.
O que é de pasmar é o facto de, não obstante uma feroz proliferação de leis, em Portugal continua-se a permitir que se cometam verdadeiras discriminações contra minorias perdidas num caótico espaço jurídico que não as contempla.
Não é meu intuito defender a causa feminista nem nunca o foi.
Admiro demasiado as mulheres para achar que elas devem ser dignas de algum sentimento de comiseração e considero-as suficientemente fortes para fazerem levar a sua avante.
De qualquer maneira , é-me impossível permanecer insensível face a situações em que uma mulher vê negado o seu direito a ser mãe por não integrar um projecto heterossexual.
Parece-me repugnante que o facto de se tentar registar um filho sem relevar o nome do pai seja motivo para abertura de um inquérito por parte do Ministério Público (uma vez que desapareceu por completo a designação de “pai incógnito” na lei portuguesa).
Com certeza que existe um plausível ratio na legislação portuguesa, mas à partida a ideia choca-me e causa-me perplexidade.
Ou seja, imaginando por exemplo uma mulher heterossexual, cansada de maus tratos pelo marido e que deseje ter um filho ( ou simplesmente uma mulher insatisfeita e infeliz com o seu matrimónio) não poderá em Portugal recorrer nem à adopção ( ainda que reuna os requisitos económicos) nem a métodos de procriação assistida.
Para o fazer, terá que abandonar o país e , uma vez regressada, terá que reservar alguma discrição relativamente a essa sua opção.
Dá que pensar acerca do porquê destes vazios legislativos...
Mais do que isso, assusta pensar que certas realidades não são encaradas de frente, com a abertura e frontalidade necessárias.
Será que se mudam os tempos e necessariamente se mudam as vontades?
Estaremos dispostos a abandonar os estigmas e dogmas inconscientemente adoptados?
Será correcto falarmos de uma sociedade justa, aberta e moderna?
Em pequenos detalhes apercebemo-nos do quão ainda temos que evoluir...

domingo, janeiro 16, 2005

Qué fror?

Num bar do bairro alto, cujos dias de apogeu já há muito parecem ter terminado, uma amiga e honrosa bloguista, saiu-se com uma expressão caricata.
É facto público e notório que esses locais de diversão nocturna, são recintos de caça para emigrantes paquistaneses e indianos, que pelo cansaço tentam vencer os noctívagos e vender-lhes coisas de extrema utilidade, tais como anéis e tiaras com brilhantes e melodias muito pouco harmoniosas.
Geralmente os predadores atacam quando menos se espera e quase sempre em momentos de animadas e folgosas conversas, que com a intervenção destes singelos vendedores se vêem abruptamente interrompidas.
Predadores estes , que a minha amiga J. classificou como ,nada mais nada menos , como BLOQUEADORES DE CONVERSAS.
Confesso que nunca tinha pensado nisso sob esse prisma, mas sou levada a admitir que é de facto verdadeira esta sua afirmação.
Mais do que persistentes vendedores, estes homens são bloqueadores de conversas.
Eficazes paralisadores de raciocínios, remetem ao silêncio os mais eloquentes oradores, que constrangidos vão dizendo que não e rezam ao Senhor que o vendedor os abandone e vá pregar para outra freguesia.
E retomar a conversa implica um maior ou menor esforço mental, consoante as quantidades de álcool, ingeridas até àquele momento.
E diz a minha avó que não se aprende nada na noite...não se aprende é pouco.
A partir de hoje, jamais olharei os vendedores de tiaras cintilantes da mesma forma .
E em momentos menos confortáveis, em vez de olhar para os sapatos, procurarei um anel multicolor e musical como subterfúgio de temas menos desejados...




sexta-feira, janeiro 14, 2005


Requiem ou Em busca das férias perdidas...

Para os meus emigrantes...

Venho por este meio manifestar a minha discordância face à corriqueira afirmação de que Portugal é , hoje em dia, um país de Imigrantes.
Como poderá isto corresponder à verdade, se um grande número de conhecidos e alguns importantes amigos estão progressiva e sistematicamente a abandonar a Tugalândia?
É certo que muitas das ausências serão temporárias, mas o que me garante que retornarão?
Um inofensivo Erasmus poderá ser o principio do fim, na medida em que na maioria dos casos desperta uma vontade desenfreada de conhecimento e descoberta da vida noutros lugares.
Questiono-me ainda se a pátria não ficará a perder, com tanta gente brilhante e tanta massa cinzenta valiosa que ficará espalhada pelo mundo ao invés de permanecer por cá e contribuir para o nosso bem comum?
Por este motivo, não deveríamos nós, que ficamos, receber algum tipo de subsídio, capaz de prevenir futuras tentações de “dar o baza”?
Verdade seja, não falo do alto dos meus sentimentos patrióticos.
É verdade que gosto muito de Portugal, mas não se pode afirmar que sou uma patriota. Ás vezes gostava de o ser, admito...
Falo antes do alto da minha inveja...
Considerem este post como uma manifestação inequívoca de um misto de inveja e medo de ficar abandonada e , simultaneamente, como uma menção de saudades precoces relativamente àqueles que partirão em breve.
Rita la outra, Saritz, Froes, Clarita ( que já partiste , mas deixas saudades), Michi, Peter, Tats ( quando iniciares os teus seis meses quase sabáticos)... aproveitem, mas regressem.
A vida aqui já é monótona, mas sem vocês a coisa torna-se ainda pior.
Na eventualidade de descobrirem que a vida não é aqui, vejam lá se encontram alguma ocupação a que me possa dedicar nos sítios por onde vocês andarão.
Hasta siempre!







quinta-feira, janeiro 13, 2005

Melinda Melinda - ou a minha sugestão cinematográfica da semana



Preparada para mais um filme do costume ( o Woody que me perdoe , mas ultimamente já começava a ficar um bocadinho desapontada com os seus filmes mais recentes), fui surpreendida pela ideia e realização originais deste "Melinda Melinda".
Eis uma boa forma de passar um segunda-feira à noite e esquecer os longos 4 dias que ainda se seguem...

Mais uma...


É bem sabido que nem tudo funciona neste nosso país à beira mar plantado, mas de uma coisa não nos podem acusar: não somos de todo um país monótono.
De facto, desde que o Santana assumiu o cargo de primeiro-ministro, as surpresas e os escândalos sucedem-se a um ritmo alucinante.
Ainda o Zé Tuga não recuperou de uma manobra manhosa deste nosso pseudo-executivo, que subitamente é abalroado por outra nova, mil vezes pior do que anterior.
Parada no trânsito matinal de Lisboa, estava a ouvir o noticiário da TSF quando de repente as ideias para este post começaram a ganhar forma e sorrisos de perplexidade se começaram a esboçar.
O tema da peça , como não poderia deixar de ser, era a malfadada viagem de Morais Sarmento a S. Tomé.
Como se não bastassem as primeiras declarações de Santana, aquando da primeira entrevista acerca deste tema - "Ê cá na sê se verdade, mas se foriii ê acho que tá mali"- desta feita foi o Ministro Álvaro Barreto que, com a sua sinceridade, protagonizou mais um momento de paródia.
Ao que parece e de acordo com a justificação apresentada por Morais Sarmento, um dos propósitos da viagem ( que custou cerca de 63 mil Euros ao Estado) era promover um acordo entre a GALP e S. Tomé no que concerne o petróleo que nessas terras foi encontrado.
Ora, quando questionado acerca da veracidade desta afirmação, o Min. Álvaro Barreto afirmou desconhecer tal situação.
Conforme disse ao jornal Público " Desconheço. Isso é completamente novo para mim".
Fora esta uma situação anómala (ou a primeira de todas as que já passaram) do governo santanista, o Zé Tuga estaria irritado, sentir-se-ia ultrajado, enganado.
A esta altura do campeonato, só nos resta realmente rir, meio aliviados, meio tresloucados, enquanto aguardamos com olhos gazeados a tão proclamada retoma, que insiste em não chegar.
Cá para mim que não sou analista política nem muito interessada nestes temas, ao olhar para todos estes"diz que disse", desmentidos, contradições e gaffes, só consigo pensar que tudo isto encontra um triste paralelismo nas famílias desavindas.
Não há diálogo, não há união, não há uma estratégia ou planos comuns... apenas um grupo de seres que por obra da Divina Providência ( ou neste caso do nosso grande Santana Man) se encontram momentaneamente unidos por um laço "familiar" que não entendem ou desejam , mas que ainda assim insistem em não quebrar.
Meu senhores, como qualquer boa família que se preze: Cuidado com o que dizem...já dizia a minha avó que as desgraças guardam-se em casa, não se espalham pela rua.
E da próxima vez, ensaiem antes. E quando mentirem, ao menos contem todos a mesma mentira.
O Zé Tuga pode se distraído, mas não é parvo de todo!


P.s Já agora, porque é que Morais Sarmento pôs o lugar à disposição? Afinal não se tinha demitido todo o governo?

domingo, janeiro 09, 2005

R.E.M live @ Lisbon


Uma vez que este fim-de-semana optei pela economia das palavras, que já alguma tinta correu sobre este assunto e nenhuma falha há a apontar, resta-me dizer que ontem os R.E.M mostraram no Pavilhão Atlântico o porquê de serem uma banda que marcou gerações e se continua a impor pela sua inquestionável qualidade e profissionalismo.
Para aqueles que, tal como eu permaneceram de certa maneira estagnados no tempo ( anos 90 !) a nível musical, este foi um concerto à moda antiga e digno do nome.
Um cenário simples e despretensioso, mas com recordações luxuosas que não me permitiram passar muito tempo quieta no mesmo sitio.
Que saudades já sentia de saltar e aplaudir canções que marcaram tantas e diferentes etapas da minha vida e ainda assim continuam e continuarão a ser a banda sonora da vida de muitos outros.

P.s Para momentos mais tranquilos, recomendo vivamente o último cd "Around the sun".

sábado, janeiro 08, 2005

Parte 3 - palavras para quê?


Porque às vezes é mesmo verdade ...uma imagem pode dizer mais do que mil palavras.


Isla de Cozumel


Tulum

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Parte 2

Não levei o computador comigo durante a viagem. Limitei-me a levar um pequeno caderno de memórias e afins, onde costumo relatar muito sumariamente episódios ou rasgos de inspiração inesperados.
Ainda que já tivesse pensado em escrever sobre a viagem, decidi que o melhor seria tomar o mínimo de notas possível e passo a explicar porquê.
Se me concentrasse em tirar apontamentos ou em fazer análises profundas acerca do que estava a viver, provavelmente acabaria por não ver absolutamente nada.
Costumo sentir o mesmo em relação às máquinas fotográficas digitais: passamos uma grande parte do tempo a fotografar tudo o que se mexe e o restante a ver, apagar e aumentar as fotografias que tirámos.
O menos importante passa a ser a verdadeira viagem…
Além disso, é sempre melhor ganhar algum distanciamento das coisas para podermos falar sobre elas.
Convenhamos que a julgar pelo ritmo com que estou a escrever, a minha objectividade será imensa. hehe
Enfim… sobre os primeiros dois dias de viagem não há muito que contar.
Basicamente gozámos dos privilégios do hotel e da praia.
O meu conselho para menores de 55 anos que estejam a pensar viajar para um resort all included: a menos que planeiem entregar-se ao álcool e à comida, aluguem um carro e saiam à aventura.
Se o intuito da viagem for o mencionado em primeiro lugar… escolham um que fique mais perto do vosso país e que saia barato. Afinal, se a ideia é ficar circunscrito aos muros do hotel, é igual que o façam em Marrocos, Cuba, Brasil ou Costa da Caparica.
Nós optámos por alugar um carro e rumar às pirâmides maias de Chichen Itzá e a Valladolid, no Estado de Yucatán.
Não me vou alongar a descrever-vos a história ancestral de Chichen Itzá. Isso encontrarão muito facilmente em qualquer guia turístico.
Mas de uma coisa aviso: atenção aos preços das peças de artesanato.
Toda a Riviera Maia e a zona circundante de Chichen Itzá não é propriamente barata e muitos dos preços iniciais que oferecem, estão ao nível dos preços europeus.
Recomendo vivamente uma passagem por Valladolid, porque lá encontrámos o México real: uma aldeia pequena, com a típica praça central adornada com um jardim colorido pelas pessoas e pelo artesanato que aí é vendido.
Em Valladolid visitámos “cenotes”, pequenas piscinas naturais que crescem em grutas e provámos a comida yucateca.
No que concerne o regresso a Puerto Morelos, devo dizer que não foi nada fácil. Assegurem-se que tomam a auto-estrada e não a estrada nacional. O mesmo percurso demora 2 horas na primeira e quase 4 na segunda.
O motivo são os “topes”, ou bandas sonoras aqui para os tugas, altíssimos e mal assinalados, com que somos presenteados todo o caminho até Cancun.
Moídos, com dores na coluna e um apetite chegámos ao hotel e finalmente começámos a apreciá-lo mais e a vê-lo como ele é: não o meu local de férias, mas um simples local para pernoitar, tomar o pequeno-almoço e jantar.






quinta-feira, janeiro 06, 2005

De regresso - O relato, parte I


Qual Fénix renascida das cinzas, eis-me de volta a Lisboa e à blogosfera.
Admito que não senti muitas saudades...aliás, para ser totalmente franca, não senti quaisquer saudades.
Sei que a ausência foi muito breve, mas a cada viagem que faço, surpreendo-me com esta minha capacidade intrínseca de não sentir saudades de Lisboa, das minhas pequenas coisas ou hábitos rotineiros.
Já no que concerne as pessoas, a situação é outra... Mas confesso que os 6 meses de Barcelona foram um bom treino.
Retomando o fio à meada...
Pela primeira vez, a minha família resolveu terminar o ano em território com temperaturas médias superiores a 25 graus nesta altura do ano.
Rumámos ao México, onde durante uma semana fui seduzida progressiva e infalivelmente pela afamada Riviera Maia.
Presunção ou mero ímpeto juvenil (chamado sangue na guelra!), gosto de pensar que com o passar dos anos e viagens, tenho vindo a refinar os meus gostos e exigências, procurando cada vez mais abandonar o estatuto de turista e assumir o de viajante.
Já que a minha actual ocupação profissional não me permite ser apelidada de “cidadã do mundo”, gosto de imaginar que na realidade o sou, que não pertenço a qualquer estereotipo português ou que me insiro numa determinada e estanque classe social portuguesa.
Tento imaginar que tenho uma personalidade moldável, capaz de me adaptar a qualquer estilo de vida, a qualquer lugar do mundo, a qualquer cidade e respectivo ritmo.
Claro que acordo após dois minutos e me apercebo que sou portuguesíssima, que não posso viver sem o sol de Lisboa ou um bom cozido à portuguesa.
Mas de que falava? Ah sim, o México.
Esta foi a segunda vez que visitei este pais, com o qual tenho uma ligação muito especial.
Da primeira vez conheci o México real, aquele que dificilmente é vendável nas agências de viagens, que quase sempre é conotado de uma forma negativa.
Estive na Cidade do México a maior parte do tempo, com direito a curtas estadas em cidades coloniais como San Miguel de Allende e Guanajuato( este última que foi considerada pela Unesco como património da Humanidade) e Isla de Pajaros (Guerrero), onde acampei pela primeira vez em solo praticamente virgem.
Um mês foi mais do que suficiente para conhecer a realidade mexicana, ainda que na altura me tenha sabido a pouco e só tenha atingido a consciência desse privilégio muito recentemente.
Um amigo mexicano comentou um dia , que uma pessoa que visite o México sem ir à Cidade (Distrito Federal), nunca chega a conhecer realmente a realidade mexicana.
Na altura aquilo não fez tanto sentido como agora.
Ao chegar ao resort de Puerto Morelos (Riviera Maya), a desilusão foi instantânea.
Aquilo não era o México com certeza...e se era, então fui levada a concluir que nunca o havia visitado.
Avassalada por um misto de perplexidade e saudades , não me permiti valorizar os meus primeiros dois dias de estada em território mexicano.
Rodeada por luxuosos muros, uma fantasia plástica e subordinada ao despotismo norte-americano apresenta-se como “o México”, mas verdadeiros sinais dele são praticamente inexistentes.
Chego mesmo à conclusão que o conceito de resorts não se aplica a viajantes, mas sim a turistas, que não buscam uma essência, mas apenas facilidades, calor, organização artificial que não corresponde ao país onde os mesmos estão inseridos, realidades camufladas em serviços de “in included” e música com ritmos de salsa.
O México que conheci e por quem fiquei apaixonada é um país com um passado glorioso relativamente ao qual todos os mexicanos se sentem orgulhosos, o país das cores vivas, das colinas saturadas com construções rudimentares que não deixam à vista qualquer espaço verde, é o país com a cidade mais povoada do mundo (25 milhões!), onde convivem em harmonia tecnologias e cosmopolitanismo do sec.XXI e tradições indígenas e pirâmides de sociedades há muito desaparecidas.
Mais do que isso, é o país onde a pobreza é proporcional ao calor humano que as pessoas emanam ao trocar as primeiras palavras...
Admito que no turismo massificado da Riviera Maia , o carácter afável dos mexicanos não sobressaia. Afinal, toda a zona está planificada em função dos norte-americanos e eles não estão ali para reclamar atenções, mimos ou especial cordialidade.
Afinal estão ali por direito, porque aquele “meio-irmão” esfarrapado tem que se submeter aos seus caprichos e não questionar o que quer que seja.
Estas foram as minhas primeiras impressões ao chegar a Puerto Morelos...mal sabia eu os dias fantásticos que se seguiriam...
Mas a noite já vai longa e o post também.
Não vos canso mais a vista em frente ao écran. Amanhã prometo prosseguir com o relato desta viagem e tentarei ser breve.
Basicamente, a ideia é despertar em vocês curiosidade em relação a um país incrível, que venho a conhecer cada vez melhor e a admirar cada vez mais.