quinta-feira, junho 30, 2005

Isaltino estranha ter sido constituído arguido na pré-campanha

Mais uma vez a cabala...

O inevitável

“ A Não-sei-quantas tem um blogue.”
“Tem um quê?”
“Um blogue. Um diário que publica na Internet.”
“Na Internet? Mas porque raio é que alguém que escreve um diário, o publica na Internet?”

Um dia difícil...



"O sistema... o sistema... a culpa é do sistema!"

terça-feira, junho 28, 2005

E porque não Pessoa?

"Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enrêdo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões p'ra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai! "


Fernando Pessoa

segunda-feira, junho 27, 2005

Questo è illegale

Sei que ameaço tornar-me repetitiva e cansativa.
Isto, claro, partindo do pressuposto que ainda não me tomam como tal!
Mas a verdade é que mais uma vez o Metropolitano de Lisboa serviu de cenário para uma situação insólita.

No entanto, com algum embaraço da minha parte, desta vez eu fui uma das protagonistas.
Talvez devido ao cansaço ou a enormes ânsias de chegar a casa, distraí-me ao trocar de linhas no Marquês e quando dei por mim, ao invés de ir parar directamente à linha azul, acabei por dar saída ao meu bilhete e passar aquelas simpáticas portas de vidro automáticas que, conforme pude mais tarde constatar, além de feias são pesadas.
Ainda perplexa com esta minha atitude idiota e irreflectida, hesitei em comprar um novo bilhete.
No entanto, antes mesmo de chegar às máquinas automáticas, reparei que as simpáticas portas que davam acesso à linha azul se encontravam amplamente abertas.
Entrei descansada no metro, esquecendo-me de um pequeno detalhe: o cartão que não validei na entrada, teria que inevitavelmente ser utilizado nas portas de saída.
Ao chegar a S. Sebastião, como já seria de esperar, o meu bilhete foi recusado pelas ameaçadoras e teimosas portas que não cederam às minhas tentativas.
Optei então por pedir a uma rapariga que passava, o favor de me deixar transpor com ela aquelas barreiras impossíveis.
Passei, mas guardo até hoje as marcas do raio das portas.
E, como se a dor por si só não fosse suficiente, eis que ouço uma voz estridente de um italiano pouco mais novo do que eu, com aquele look erasmus inconfundível, que alarmava todos os transeuntes da estação: “ ILLEGALE! ILLEGALE!QUESTO È ILLEGALE!”.
Acusador, o desgraçado vociferava apontando-me um dedo incriminador, que por pouco não chamou a atenção do segurança que se encontrava a alguns escassos metros.
Até hoje, não consigo parar de pensar na ironia da situação:

1) Eu que compro sempre bilhete de metro e frequento aquelas linhas há anos, como pude cometer tamanha estupidez?
2) Quem criou aquele sistema de portas foi, sem dúvida alguma, um génio. Não só permite encarcerar-nos horas a fios nos subterrâneos de Lisboa, como na eventualidade de conseguirmos evadir-nos, nunca o faremos de forma indolor. Além de que ficam sempre hematomas para confirmá-lo.

3)O que leva um erasmus a proceder daquela forma? Não deveria ser eu a proclamar a ilegalidade do acto, enquanto portuguesa e advogada estagiária? E não deveria ser erasmus italiano a cometê-lo?

Sentei-me para escrever um email a umas amigas que partem amanhã para o Pantanal, mas fui incapaz de escrever uma linha sequer.
Não as vejo há algum tempo, mas ainda assim sinto que não tenho muito para lhes contar.
Ou, melhor, sinto que não tenho nada de interessante para contar.

O que é que uma pessoa que está em Lisboa, a trabalhar, pode contar a alguém que está prestes a passar dois meses a viajar pela América do Sul?

domingo, junho 26, 2005

A ti también te vale pito?




Origem? Mexicana.
A história? Simples...ou talvez não; cheia de subtilezas ou tratar-se-ia de pura ironia?; provoca sorrisos num cenário de complexas e tristes relações humanas; inteligente. Sim, um filme inteligente. Sem dúvida.
Onde? King, 21.30.
Moral da história? A não perder!

quinta-feira, junho 23, 2005

Na eventualidade de passarem por Barcelona nos próximos tempos...

E caso apreciem uma exposição ligeira, mas interessante, recomenda-se uma passagem na Caixa Forúm , em Montjuïc, onde estará presente, até dia 21 de Agosto, a exposição de retratos de Rineke Dijkstra.

Horário: De terça a domingo, das 10.00 a 20.00h.
Segunda-feira: encerrado, excepto feriados.

Á Borliu! ( Só isso, já torna a exposição suficientemente interessante! ;) )

quarta-feira, junho 22, 2005

Graças a John, o Mundo da Chapa está agora em condições de começar a dar-vos música!

terça-feira, junho 21, 2005

Á falta do Solstício de Verão em Stonehenge ou em Chichen Itzá...




O Mundo da Ch@p@ dá, oficialmente, as boas-vindas ao Verão! Posted by Hello

Contestação nas ruas de Lisboa


Admito que passar de cavalo para burro é chato.
Confesso que quando vejo os meus direitos ameaçados, reajo, dou luta, irrito-me, reivindico.
Como tal, cedo na parte em que considero perfeitamente admissível que os funcionários públicos se insurjam contra as novas medidas do Governo.
Mas convenhamos , meus amigos, desta vez acertaram-vos no ponto fraco.
Pode ser que a partir de agora surjam novos incentivos ao ingresso na função pública que não passem por ideias como trabalhar pouco, sestas prolongadas, possibilidade de maltratar indiscriminadamente terceiros, elevadas remunerações, reformas antecipadas e desresponsabilização total por qualquer falha ou atraso no serviço ( mal) prestado.
Eu, confesso, perdi uma grande parte do desejo de fazer parte do organismo estatal.

Mas isto sou eu....




E ainda dizem que a principal virtude de um jurista é ter bom senso

"Entretanto, do ponto de vista puramente psicológico, torna-se sem dúvida mais grave o adultério da mulher. Quase sempre, a infidelidade no homem é fruto de capricho passageiro ou de um desejo momentâneo. O seu deslize não afecta de modo algum o amor pela mulher. O adultério desta, ao revés, vem demonstrar que se acham definitivamente rotos os laços afectivos que a prendiam ao marido e irremediavelmente comprometida a estabilidade do lar. Para o homem, escreve Somerset Maugham, uma ligação passageira não tem significação sentimental ao passo que para a mulher tem. Além disso, os filhos adulterinos que a mulher venha a ter ficarão necessariamente ao cargo do marido, o que agrava a IMORALIDADE, enquanto os do marido com a amante jamais estarão sob os cuidados da esposa.
Por outras palavras, o adultério da mulher transfere para o marido o encargo de alimentar prole alheia, ao passo que não terá essa consequência o adultério do marido.
Por isso, a sociedade encara de modo mais severo o adultério da primeira."


Barros Monteiro, no seu Curso de Direito Civil - (in Volume 2, Direito de Família, pagina 117)

segunda-feira, junho 20, 2005

domingo, junho 19, 2005

Nós, os fóbicos!

Nós, os fóbicos, vivemos atormentados com a surpresa, com o inesperado, com aquelas horas do Diabo em que somos surpreendidos pela causa da nossa fobia.
Guardamos e respeitamos a fobia de cada um, sem questionar ou emitir juízos de valor, uma vez que estamos permanentemente conscientes da cumplicidade única que nos une a esses seres e nos afasta demais.
Este é um relato “real” de um momento “surreal” .
Relativamente aquele dia , não sei precisar se Caranguejo estava no quadrante de Saturno ou se o ascendente Leão contribuiu para o efeito.
Inegável é o facto de que a conjuntura estava perfeita e veio corroborar a minha teoria da conspiração de que a nós, doentes fóbicos, tudo nos pode passar.
Caminhava eu tranquilamente na Av. António Augusto de Aguiar, maravilhoso local de betão armado e de elevadas concentrações de monóxido de carbono, quando subitamente os vislumbro.
Eram grandes, coloridos, pomposos e ameaçadores.
Dirigiam-se orgulhosos para o eixo da via, naquela pose de arrogância e ironia que lhes é tão característica.
Assustadores! Irritantes! Ameaçadores!
No momento em que aguardo a mudança do sinal dos peões junto à passadeira, faz-se sentir uma rajada de vento mais forte que os coloca a uma distância mínima de mim.
Suores, tremeliques, o reflexo de levar as mãos aos ouvidos, o instinto de protecção no seu apogeu.
Foi então que tudo aconteceu.
Os pneus derrapantes, o ranger do motor, a buzinadela.
O carro chegou a uma velocidade elevada, apanhando-os de desprevenidos.
As explosões!
Primeiro lentas, depois mais rápidas e subitamente os tiroteios mortíferos.
O tempo parou e eu, petrificada, fiquei incapaz de baixar as mãos.
Não desejo a ninguém esta experiência.
Balões de hidrogénio colhidos por um veículo automóvel na Av. Ant. Augusto de Aguiar, no momento em que eu me preparava para atravessar a rua, mesmo a escassos centímetros de mim.
Será karma? Uma desagradável coincidência? Um brincadeira do destino para com a minha pessoa?
Já não há respeito por nós, os fóbicos!
E se apanho a pessoa negligente que deixou esses malditos balões à solta, nem sei o que lhe farei. Ai não sei, não...



*
Para quem não sabe, eu sou provavelmente a única pessoa do planeta, que juntamente com os cães, tem fobia de foguetes, fogos de artificio, explosões de balões, bombinhas, petardos e companhia.

sábado, junho 18, 2005

Proposta de alteração ao Hino Nacional



"Alô, Alô marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano está na maior fissura, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Alô, Alô marciano
A crise esta virando zona
Cada um por si, todo o mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria, porque...

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society

Alô, Alô marciano
A coisa está ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pixar
Tem sempre um aiatolá pra atolar Alá

Tá cada vez mais down no high society
Down, down, down no high society


Elis Regina

sexta-feira, junho 17, 2005

Boa noite!




Breakfast at Tiffany´s?

O Sentido de eleição

Os cheiros são, sem dúvida alguma, mais inesquecíveis do que muitas frases, muitas caras ou lugares.
O cheiro fétido dum lago da Guiné Bissau, o cheiro de frutas maduras e maresia do Algarve, o perfume suave das camisolas da minha mãe, o cheiro das ruas de Barcelona, o odor húmido impregnado nas roupas de Barcelona.
Regressar a uma cidade que já se conhece de ginjeira, aligeira os passeios e os estados de espírito, tornando dispensáveis os roteiros de viagens, esclavagistas de tantos turistas.
Para mim, chegar a Barcelona é ainda mais do que isso. (Engraçado constatar que só hoje me sinto capaz de escrever alguma coisa sobre esta curta visita!)
É o tumulto familiar da Plaza Catalunya, são os pés sujos e calejados por palmilhar ruas e ruas de chinelas, é a humidade nos cabelos e na pele que, misturada com a poluição, nos escurece a tez durante o dia.
Mas mais do que qualquer outra memória, ainda sinto o cheiro dos fins de tarde na Barceloneta, é o cheiro das ruas do Bairro Gótico, do Raval e da Gracia, é o cheiro do metro, dos autocarros, das casas, das tapas, das claras e dos kebabs.
São odores que não incomodam, que não se estranham, que não me sinto tentada a repelir.
Cada lugar uma história, uma pessoa ou um momento, mas sempre o característico e inolvidável odor.
.

quinta-feira, junho 16, 2005

Descobertas arquitectónicas do passado fim-de-semana



The Blur Buildind, Suiça, de Diller & Scofidio.
Ou o edificio...

Posted by Hello



Que só existe com a neblina...



Kunsthaus, Graz ( Aústria), Peter Cook and Colin Fournier. ( fotografia genial "gamada" escandalosamente ao site da M. )



Tower of Winds (1986) de Toyo Ito, em Tóquio.

Posted by Hello

Fim do dia

“A verdade?”
“Será que a quis saber? No momento não foi relevante. Só te digo que soube realmente bem.”
“Mas o que é que sentiste?”
“Não sei dizer. Mas ,pela primeira vez ,senti que valeu a pena a estopada de cinco anos. Senti utilidade, percebes? Que podia fazer a diferença...”
“ Primeiro pensamento?”
“ Bem aventurados os que estudam algo que lhes interessa. Mais felizes ainda aqueles que fazem realmente algo de que gostam.”

terça-feira, junho 14, 2005

Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade (1923-2005)

segunda-feira, junho 13, 2005

O eterno retorno...


A arte nas ruas, nas casas, nos museus, no ar... Posted by Hello


Barri Gotic Posted by Hello


Las Ramblas Posted by Hello


Fernando Bryce - Exposição temporária na Fundació Tapiés Posted by Hello


Os terraços mágicos de Gaudí, Casa Batlló Posted by Hello


Casa Batlló


Barceloneta Posted by Hello

quinta-feira, junho 09, 2005


A Budapeste " amarela" de que o Chico falava, reencontrada entre fotografias de viagens passadas. Posted by Hello

Pequenos Nadas...

O local do costume: Metropolitano de Lisboa. Linha Verde. Sentido Cais do Sodré.
Se a memória não me falha, julgo que nos vidros junto aos primeiros assentos depois da porta não figura qualquer sinal de cedência de prioridade a grávidas, idosos, inválidos ou acompanhante de crianças de colo.
Das duas uma: ou acabaram com essa reserva de lugares ou deu-se (ingenuamente) por adquirido que o costume se impõe perante qualquer regulamento ou lei, razão pela qual os autocolantes de aviso são desnecessários, uma vez que é senso comum dar prioridade a quem se encontre nalguma das situações supra mencionadas.
Uma mulher de etnia cigana entra ofegante e de forma trôpega
O apito já tinha soado e por pouco ela e a criança de colo que carregava não ficaram presas na porta.
Independentemente de não vislumbrar qualquer autocolante de aviso e sem qualquer tipo de melindre ou timidez, exige que alguma das pessoas sentadas lhe ceda o seu lugar.
“Ouçam lá, alguém que se levante e me dê o lugar. Tenho uma criança ao colo e que eu saiba, estes lugares estão reservados para pessoas como eu!”
Muitos desviaram o olhar incomodados, outros continuaram arrogantemente a ler o seu jornal e finalmente um alma caridosa, jovem e descontraído, levantou-se , dando lugar à reivindicativa mulher, que com a criança chorosa nos braços, observava com orgulho de vencedora os restantes passageiros de pé.
Paragem seguinte: Martim Moniz.
Entra na carruagem uma senhora que além de idosa era cega, acompanhada por uma amiga que a guiava, de idade igualmente avançada.
Apoiada numa bengala e com notórias dificuldades motoras, a senhora cega dirigiu-se ,apoiando-se na amiga, até ao varão que fica junto à porta, de forma a ter algum apoio durante o trajecto do metro.
Prontamente dois senhores abandonaram os seus lugares, cedendo-os às duas senhoras silenciosas e tão pouco reivindicativas.
“Oh Lúcia, olha para nós cheias de sorte. Afinal ainda há gente educada.”
Duas situações aparentemente tão distintas, separadas por míseros minutos e por tão distintas forma de estar e reagir.
Independentemente de qualquer juízo de valor acerca das condutas de cada uma delas, todas estas senhoras estavam conscientes dos seus direitos.
A diferença está em que uma reivindicou-os , exercendo-os quase que potestivamente.
Numa atitude quase que despojada de esperança, as outras resignaram-se e nem atreveram pedir o que quer que fosse.
Em comum? O facto das três não se iludirem com falsas canduras do ser humano; o facto de todas terem partido do pressuposto de que ninguém, de livre vontade , teria o civismo de lhes ceder o lugar.

E estes são os dias que correm.
E este é mais um exemplo dos pequenos nadas que significam tudo.

quarta-feira, junho 08, 2005

O Beck vem aí!



26 de Junho, Festival Ilha do Ermal Posted by Hello

terça-feira, junho 07, 2005

O que poderia ser o meu presente de aniversário...



Langkawi, Malásia

É oficial: tentei beber um copo de água e a água saiu morna da torneira.
Já temos o calor, a miséria nas famílias, os escândalos políticos, corrupção, violência e um défice brutal.
Digam lá o que disserem , cá para mim somos cada vez mais assumidamente um país do 3º Mundo.
Só é, de facto, lastimável que os preços sejam os do 1º Mundo!!!


sábado, junho 04, 2005

Serviço de Urgências




Ontem tive o estranho e desagradável prazer de conhecer o Servico de Urgências do Hospital Curry Cabral.
Qualquer semelhança com a série E.R e seu respectivo George Clooney, é PURA COINCIDÊNCIA!
Mas também é susceptível de fazer-nos rir...DE DESESPERO.
O motivo pelo qual a minha noite de sexta-feira foi passada no hospital, foi o facto de o J. Fermin se ter sentido mal durante o jantar.
Suores, uma mórbida palidez e dores de cabeca dilacerantes arrastaram-no para um estado de semi-inconsciência e provocaram-me um autêntico ataque de pânico.
Como louca, guiei a velocidades muito pouco legais até ao Hospital Curry Cabral, ao qual pertencemos devido a localização geográfica das nossas casas.
Apesar de não esperar desfecho diferente, o diagnóstico proferido por uma jovem interna, não foi de todo conclusivo.
Aparentemente, o J. possui uma saúde de ferro e o mais provável foi ter-se tratado de uma simples quebra de tensão.
De qualquer forma, a jovem médica recomendou um electrocardiograma e pediu-nos que aguardássemos os resultados, para depois termos uma conversa final .
Esperámos cerca de 30 minutos, para no final, o desgracado J. ,com o seu português apimentado por um sotaque latinoamericano, nos anunciar que afinal não tinha qualquer problema cardíaco.
Segundo a médica , o J. apenas tinha que obedecer a uma pequena dieta: bananas, água de arroz de cenoura, coca-cola sem gás e chá preto.
Perante a preplexidade que tamanha prescrição me provocou, dei por mim a especular:
1) Aparentemente, o problema do J. situa-se ao nível do abdomén e não na cabeça;ou
2) Algum desgraçado ontem foi para casa , incumbido na impossível missão de tratar diarreia com Benerons e outros analgésicos!

sexta-feira, junho 03, 2005

"A literatura é quase toda sobre sexo e nada sobre ter filhos. A vida é precisamente o contrário."

David Lodge, "Um dia o Museu Britânico ainda vem abaixo", Edições Asa

"Este Sócrates é o maior" ou " A única medida do governo que me deixou realmente feliz"

Fim de semana à vista


Such is life in the tropics... Posted by Hello

quinta-feira, junho 02, 2005

Rituais de Junho

Finais de tarde temperados com imperiais e caracóis.
Vontade imensa de sair de casa, despojada do peso dos casacos, braços e pernas bronzeados, suaves rubores nas caras.
Caminhadas pela cidade, ar fresco do Monsanto e vistas para o Tejo.
O alto do Parque Eduardo VII, as barraquinhas cheias de gente ávida por novos livros, por renovadas letras, expectantes, curiosos, interessados.
E depois regressar a casa, procedendo-se ao ritual de arrumar os livros nas estantes, escrevinhar o meu nome e a data da compra.
Observar o alinhamento perfeito e sorrir de contentamento: avizinham-se tantos momentos de prazer...
Subitamente os dias parecem mais longos, a vida parece mais leve, as energias parecem todas renováveis, a cidade deixa de ser tão asfixiante.

quarta-feira, junho 01, 2005

De se lhes tirar o chapéu

Só hoje me apercebo, do quão admiráveis são aquelas pessoas que dedicam a sua vida a trabalhar para melhor servir os idosos.
Aqueles que com gestos simples e um sorriso nos lábios, tentam dar alguma dignidade e brilho aos últimos dias da vida de alguém.
No fundo é disto que se trata: de gestos simples, mas tão difíceis de executar.
Porque não temos tempo, porque nos inibimos, porque as suas birras são ironicamente demasiado infantis, porque os seus odores nos incomodam, porque as suas rugas, qual prenúncio de futuro, nos inquietam.
As idas a lares de idosos são deprimentes e inquietantes.
Transportam-nos para inevitáveis viagens no tempo, conduzem-nos a especulações acerca daqueles corpos cansados e curvados que, sofregamente nos observam e procuram para conversar.
Mas até as suas palavras soam inconvenientes, as suas mãos engelhadas e trémulas impelem-nos para longe; o tempo parece parar.
Queremos fugir, queremos esquecer, queremos fechar tranquilamente a porta do lar e ir rapidamente para casa, esquecer que um dia aquele poderá ser o melhor final que poderemos almejar.
Num desses momentos apercebi-me do quão mais fácil é amar e cuidar de uma criança, tocar e consentir uma pessoa jovem.Admiráveis são aqueles que o conseguem fazer igualmente com os mais velhos, aqueles que ao contrário de mim, não temem a velhice e conseguem conviver quotidianamente com ela.