terça-feira, março 15, 2005

A banalidade das despedidas...

"Encaminham-se para casa, conversam agora sobre coisas triviais , como quantos pares de peúgas embalou, com que frequência vai escrever, que lembranças deve trazer consigo, como não adoecer. A conversa é constrangedora; não se espera que as despedidas estejam carregadas de tais banalidades. Não é assim que se passa nos livros, pensa ele, nem no teatro..."

in "O Afinador de Pianos" , Daniel Mason

Por mais vezes que me despeça, por mais que tente disfarçar o nervosismo das saudades antecipadas, por muito que saiba que as distâncias na era da internet são praticamente inexistentes e que as pessoas que realmente importam não são substituíveis, as despedidas deixam-me desconfortável.
Nunca sei o que dizer, se adoptar a pose da banalidade e indiferença ou sucumbir a um dramatismo excessivo.
Não optando falo do tempo, lanço piadas non sense, abraço-me mil vezes ao viajante, esse afortunado que está de partida.
Mas meu íntimo, naquela parte do coração mais resistente e que se recusa a crescer, desejo secreta e egoisticamente que a pessoa não vá, pese embora na maioria das vezes tenha sido eu a principal motivadora e estratega daquela partida.
Este post deveria ter sido colocado no sábado à noite, mas isto de trabalhar na área do Direito corrompe-nos mais do que julgamos. A morosidade é fatal e não há que fazer hoje aquilo que podemos perfeitamente fazer amanhã...
Mas hoje tinha que escrever.
Afinal a minha Inês partiu à aventura italiana e agora já não a tenho ao alcance de um telefonema, nem as suas gargalhadas sonoras iluminam os meus jantares e durante uns bons meses ela não me virá buscar a casa no seu Fiat desengonçado, nem me guiará ao Bairro Alto com aquele ar de condutora alucinada que não escuta uma única das mil palavras que incessantemente vou desbobinando todo o caminho.
Gostaria de ter conversado mais, de ter dito coisas mais inteligentes, de ter dado conselhos sábios... mas que queres que te diga? Sábado à noite só me ocorriam banalidades e trivialidades...
Talvez porque tivesse com vergonha de te dizer que vou ter mais saudades tuas do que imaginas, talvez porque mil outras vezes te quis dizer que eras uma pessoa verdadeiramente excepcional e a caneta ficou sem tinta...
Que bom que desta vez temos a internet para manter vivas as minhas palavras e as memórias deste meu mundinho tão luso ...
Ci vediamo dopo bella!

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