segunda-feira, março 21, 2005

Domingos na Fundação Calouste Gulbenkian

A via mais fácil da desresponsabilização, é culpar os outros.
Os vizinhos, os amigos, os inimigos, os familiares, o governo, o país, o mundo ou Deus.
É fácil, tem um efeito tranquilizador quase imediato e é uma forma económica de resolver as situações mais dúbias em termos de justeza ou de moralidade não duvidosa.
No que concerne a falta de cultura em Portugal,a culpa parece ser de todos mas nunca é de ninguém.
Quantas vezes ouvimos pessoas na televisão a justificar-se perante câmeras “surpresa” (que de uma forma tenebrosa tentam caçar a vox populis portuguesa) dizendo que não vão mais ao teatro, a museus ou a exposições porque a vida está cara e a cultura não é excepção.
Muitos são aqueles que insistem ainda em dizer que a cultura em Portugal é para elites, que nem todos têm acesso a ela.
Confesso que um grande número de espectáculos, além de se confinarem geograficamente a zona de Lisboa ou Porto, praticam preços especulativos e desproporcionais, acabando por se tornar inacessíveis a muitas carteiras.
Mas verdade também seja dita, as mesmas carteiras que não comportam uma ida ao teatro uma vez por mês, comporta dois maços de tabaco por dia, quatro cafés e almoços em restaurantes de preço médio, que mesmo em época de crise não têm mãos a medir nas horas de almoço de muitos trabalhadores que insistem em não levar a bela da sanduíche de casa.
Obviamente que a questão que aqui se coloca, se resume a escolhas pessoais e prioridades diferentes e qualquer posição é aceitável.
No entanto, hoje em dia já se consegue aceder a um mínimo de cultura por um preço baixo ou até de forma gratuita.
Nesse sentido escrevo hoje, deixando-vos uma sugestão para tardes de domingo chuvosas.
O museu Gulbenkian, local onde me dirigi esta tarde após alguns anos de inexplicável afastamento, abre as suas portas aos visitantes, de forma totalmente gratuita, todos os domingos até às 18h.
Não só podemos encontrar variadas peças históricas de inestimável valor, como em redor, um tranquilizante jardim permite longas e refrescantes caminhadas no coração da cidade.
A minha tarde de hoje foi passada naquela Fundação e pese embora o acesso gratuito, lamentei com pesar( e com algum sentimento de culpa) que quase nenhum dos visitantes era de nacionalidade portuguesa, mas sim turistas que ávidos de curiosidade dissecavam cada peça exposta.
Esta situação tem que se alterar, as mentalidades necessitam urgentemente de abandonar as ideias preconcebidas da arte elitista e ,tendo em conta que há de facto formas gratuitas de nos cultivarmos, deixam de existir desculpas para passarmos as tardes de domingo em casa .


P.S Falta aqui uma bela foto, mas por dificuldade técnicas não a consigo inserir. Espero que o negro deste avolumado conjunto de letras não vos tenha entediado em demasia...

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