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Retomei o hábito de andar de transportes públicos, por franca necessidade ( o meu chaço ameaça morrer) e , em parte, por convicção.
Após anos de inércia mental e de genuíno pânico quando colocada perante uma qualquer situação que não implicasse locomoção em veículo próprio, eis-me a descobrir os prazeres e os inconvenientes de deslocar-me nos transportes públicos aqui da capital.
O tempo que perco a aguardar a chegada do metro ou do autocarro, não o recuperaria se estivesse no meu próprio carro, parada provavelmente entre algures e nenhures, no meio de gente histérica e igualmente desesperada por chegar ao seu destino a tempo e horas.
Os calos que ganho nas caminhadas e no bate pé da espera, são recompensados com o banho quente ao chegar a casa. Não só me amacia as palmas dos pés, como faz desaparecer as manchas negras das mãos, provenientes da poluição que se sente ( e, infelizmente , já se vê) na cidade.
Mas o mais importante foi ter descoberto , para meu grande espanto, que deslocar-me em manada com os restantes utilizadores do Metro e da Carris, me torna uma pessoa menos egocêntrica.
Ora veja-se: quando vou no meu bólide, a espumar de raiva em mais um engarrafamento na Rua da Escola Politécnica ou simplesmente estagnada nos semáforos das Amoreiras, zona assumidamente infernal desde o inicio das obras do túnel do Marquês, não páro de pensar em mim por um instante que seja.
Porque raio vim por aqui?
Que infeliz sou por ter que andar de carro?
Estou tão farta de estar aqui enfiada.
Odeio pessoas que não cedem passagem.
Quem me dera estar em casa, refastelada no sofá, a ver telenovelas de modo compulsivo.
Vou chegar atrasada outra vez!
Eu...eu...eu ..
Eu parada e histérica no trânsito, eu a desesperar no carro, eu farta da música da rádio, eu a apitar para o gajo da frente que adormeceu, eu a discutir com mais um taxista, eu preocupada com o preço da gasolina...
Percorrer o mesmo trajecto de autocarro ou metro faz-me parar de olhar para o meu umbigo e dedicar-me a uma tarefa muito mais interessante: o umbigo dos outros, os cabelos dos outros, os livros que os outros lêem, a especulação acerca das suas vidas, os seus possíveis destinos e hipotéticos pensamentos.
Resumindo a ideia: não apenas poupo uns trocos em gasolina, como não contribuo para a poluição do planeta e torno-me uma pessoa melhor, mais atenta aos outros e ao que me rodeia.
E tudo seria perfeito se os horários fossem cumpridos, se os condutores de autocarro não conduzissem como maníacos , se o metro à hora de ponta não fosse tão claustrofóbico e se os preços dos bilhetes fossem mais baratos.
10 comentários:
Pois é, após mais de um ano a usufruir do maravilhoso mundo dos transportes públicos (especialista em Carris), vejo-me agora na obrigação de comprar um carro (que stress pagar!) e de guiar todos os dias (que stress conduzir na A5!).
Chapa, se os condutores não conduzissem como maníacos, não teriam qualquer hipótese de cumprir os horários... Mas uma coisa bem podiam fazer: LIGAR A PORRA DO AR CONDICIONADO! Aparentemente, os simpáticos chauffeurs adoram ver os desgraçados dos utentes pingar logo de manhãzinha.
E para finalizar, um especial cumprimento àquela mulher que trabalha algures nas Laranjeiras, e que é IDÉNTICA ao Chris Rock.
Infelizmente, não há transportes públicos de jeito para o sítio onde trabalho. Quando houver (sim, o metro vai passar aqui coladíssimo, iupiiiii!), passarei a utilizá-lo, por todos os motivos que referiste. Embora vá, provavelmente, demorar mais. Mas vai ser um descanso. E bem, pelo menos, tenho escolha! É que agora nem isso...vai daí, a minha auto-comiseração ainda aumenta exponencialmente ao ter pena de mim *e* ter pena de não ter alternativas!
"Se os condutores não conduzissem [...]"
...
É difícil trabalhar e blogar ao mesmo tempo... Deve ser o cansaço...
Até podia ser o slogan da próxima campanha da Carris: "seja melhor pessoa, ande de autocarro por Lisboa".
Que tal?
Beijitos da Zona Franca
Há autocarros na zona de LX, q são dos anos 70, o que contrasta com o princípio de proteger o ambiente por quem neles anda. o metro avaria numa das linhas dia sim dia sim. muitas paragens de autocarro n têm protecção para a chuva. os transportes públicos em lx são um roubo.
se eu pudesse ia de carro para o emprego todos os dias...
A que proposito (fora bairro alto) é que tu andas de carro pela rua da escola politecnica?!?!?
Spittelau
Spittelau meu rapaz, devias saber que um advogado estagiário anda POR TODA A PARTE! A pé, de carro, autocarro, metro... We go everywhere.
Txalito, não te sabia tão comodista.
Izzolda , aqui em Campolide também aguardamos pacientemente a chegada do metro.Até lá, há que ter força de vontade e procurar meios alternativos. Guiar nesta zona é um caos!
Freddy, será que alguma agência de publicidade vai pensar como tu? Será que ainda vou ganhar uns trocos com isto?
Jacinto...gostas pouco da ideia de ter um carro , gostas! ;)
Rita, em nome dos peões de Lisboa que se preocupam com a segurança, saúdo, agradeço e aplaudo a tua transição para os transportes públicos.
That´s it!Fonzie, prepara-te. You´ve crossed the line!
E o tempo que se ganha para pôr as leituras em dia? Graças a isso não consigo escolher entre a comodidade de ir directamente para casa, ou seja lá para onde for, quando saiu do trabalho ou ler mais umas páginas, com o inconveniente de demorar mais meia hora de transportes. O livro costuma ganhar!
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