domingo, janeiro 29, 2006

As palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

2 comentários:

Anónimo disse...

Que lindo!!!
O que entristece é que, cada vez mais, as pessoas se esquecem que as palavras são tudo isso!...

Anónimo disse...

São palavras como estas que nós aquecem o coração...que mantém a alma atenta ao sentimento humano...
Obrigado por tal lembrança....
Um sorriso meu para si :)