sexta-feira, janeiro 05, 2007

Oitentas



Começou pelos cabelos: escortinhados, franjas curtas, cortes quadrados a lembrar o Paulo Futre dos velhos tempos.
Posteriormente chegaram os All Star, as bolinhas coloridas e as t-shirts deslavadas e compridas que deixam ombros à mostra e as ancas cobertas.
O regresso dos 80´s afirmou-se, uma vez mais, deitando por terra os argumentos dos mais relutantes em aceitar qualquer beleza nesse estilo controverso que, há 20 anos atrás, levou gerações a pintar os cabelos de cor-de-rosa e a encher estádios de futebol, não para uma “peladinha” de 22 machos e um esférico, mas para ouvir músicas que, tal como as roupas ou cabelos, marcaram uma época.
Nascida nos oitenta, cedo a minha posição àqueles que se vangloriam pelo facto de recordarem esses dias e por terem conhecido o Bananas ou os primórdios do Tokyo.
Porém, recordo, não com saudade mas entre risadas, os tempos de infantário em que os Europe eram tópico de conversa de miúdos ranhosos de quatro anos que, pese embora mal balbuciassem um português correcto, conheciam de cor o refrão da “Final Countdown”.
Relembro, ainda, as colecções de folhas perfumadas, as horas de almoço na companhia do “Agora Escolha”, o loiro George Michael e os seus “WHAM” a entrar pela casa através da aparelhagem gigante da sala, as pulseiras florescentes, a “Bota Botilde” e a “Lambada” a aquecer as festas de garagem.
Clássicos eram ainda os néons rosa das lojas chamadas “Pink” ou “Kiss” que faziam as delícias das compras, num tempo em que centros comerciais não existiam e ainda se faziam compras na Rua Augusta.
Anos volvidos, combino um almoço numa recém-descoberta em Santos. Páteo lisboeta, soalheiro, rasgos de modernidade a espreitar e a fazer renascer uma zona moribunda de Lisboa.
Os néons já não se vêem. Mas o regresso aos neologismos é inegável. Os “Páteos das Cantigas” deram lugares aos “Lounges in” ou “Slow Food Restaurants”.
Não temos empresas de recrutamento, temos “head hunters”.
Não se propõem acções, mas dão-se início a “due diligences” que matam de desespero os estagiários que a isso se dedicam.
Uma casa não é confortável, mas sim “cozy”.
As tostas contêm “chévre” e rúcula, ao contrário do chouriço assado que fica guardado para as noites de Santo António.
Não temos néons, é verdade, mas temos os corsários, os cabelos escadeados, os All Start e os batôs encarnados a condizer com os sapatos de verniz.
Até à data, nada a censurar! São os sinais do tempo que, finalmente, se fazem sentir em Lisboa.
Todavia fico confusa. Qual a diferença entre ir à Tasca da Mariquinhas e ao seu Lounge?
Para além do aspecto “ikea”, fico com a sensação que tudo passa por uma diferença de 1 euro a mais por café…
E pensar que os 80´s (ou “ochentero” como dizem os nossos irmãos do país vizinho), não eram sinónimo preços elevados, mas simplesmente sinónimo de piroso.

1 comentário:

Filipe disse...

I love the 80's too!!
Tempos impressionantes que não se tornam a repetir. Foi uma golden age.