quarta-feira, agosto 22, 2007

Y tu mamá también






Gosto de ver filmes repetidamente e de notar os pequenos deslizes de realização que mais ninguém vê, de prestar atenção ao pormenor de um figurante anónimo, de concentrar-me nos detalhes que, sendo cruciais, escapam ao olhar de um espectador descuidado.
Um dos filmes que revi esta semana e que jazia, desalinhado, na minha estante há já algum tempo, foi o badalado “Y tu mamá tambiém” do realizador mexicano Alfonso Cuarón.
Á primeira vista facilmente nos sentiríamos tentados em enquadrá-lo num relato de uma “road trip” juvenil, certamente incapaz de atingir o nível de introspecção da escrita Jack Kerouac , mas igualmente incapaz de cair no rídiculo dos filmes de série cómica americana.
Uma análise atenta aos detalhes do filme de Cuarón, afasta-nos da suposta “trama” que desenvolve entre Tenoch , Júlio e Luísa e conduz-nos a um México real, sem o tom azul coral da costa das Caraíbas, sem a artificialidade das margueritas com enfeites ou o cliché dos cruzeiros em Acapulco.
A Cidade do México e os seus contrastes; a juventude privilegiada que, quase invariavelmente, se dirige à Europa para passar os meses de verão, qual ritual de passagem; os clubes desportivos onde a actividade física se torna secundária; as casas de luxo onde senhoras do interior , incapazes de se adequar ao frenesim da capital, dedicam a sua vida a criar os filhos de outros, demasiadamente políticos e ocupados para se preocuparem das suas crias.
O caminho trilhado entre o Distrito Federal e Guerrero; as anciãs das aldeias; as homenagens aos que já partiram; as paragens obrigatórias junto de uma polícia corrupta e indiferente; a pobreza aceite com simplicidade.
Rever este filme foi mais do que uma tarde bem passada.
Foi rever um país que me continua a despertar curiosidade e viajar, uma vez mais, pelas estradas que já conheci e pelos caminhos que ficaram na memória, compreendendo um pouco daquilo que os resorts e o temível Dean não deixam transparecer.

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