sexta-feira, fevereiro 02, 2007



“Tenho saudades nossas”, escreveu ela no verso do guardanapo que deixou junto à cafeteira.

Sempre detestara lugares comuns mas, em momentos como aquele , o recurso a eles justificava-se.

Há muito que não lhe escrevia nada romântico, hà muito que não mimava a relação.

A rotina afrouxara-lhe os hábitos, substituíra-se à saudade, tornara-se cómoda, garantida, apaziguante.

Sentia saudades deles, das trocas de cartas inspiradas, das visitas surpresa, dos presentes espontâneos e até da espera do correio.

Substituíra-se a certeza do reencontro diário à ânsia da incerteza, o silêncio às palavras que já não careciam de ser ditas, o cansaço à criatividade da paixão.

“Tenho saudades nossas” escreveu enquanto ele dormia.

>Confortada, partiu, sabendo que, à noite, ele a esperaria, como sempre, de sorriso estampado e braços acolhedores e as gargalhadas que soltariam juntos substituíram tudo o que pudesse, eventualmente, ser dito.

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