“Tenho saudades nossas”, escreveu ela no verso do guardanapo que deixou junto à cafeteira.
Sempre detestara lugares comuns mas, em momentos como aquele , o recurso a eles justificava-se.
Há muito que não lhe escrevia nada romântico, hà muito que não mimava a relação.
A rotina afrouxara-lhe os hábitos, substituíra-se à saudade, tornara-se cómoda, garantida, apaziguante.
Sentia saudades deles, das trocas de cartas inspiradas, das visitas surpresa, dos presentes espontâneos e até da espera do correio.
Substituíra-se a certeza do reencontro diário à ânsia da incerteza, o silêncio às palavras que já não careciam de ser ditas, o cansaço à criatividade da paixão.
“Tenho saudades nossas” escreveu enquanto ele dormia.
>Confortada, partiu, sabendo que, à noite, ele a esperaria, como sempre, de sorriso estampado e braços acolhedores e as gargalhadas que soltariam juntos substituíram tudo o que pudesse, eventualmente, ser dito.
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